RODRIGO SALEM

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CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) - A pressão de apresentar um filme na mostra competitiva do Festival de Cannes não abala o espanhol Pedro Almodóvar, indicado cinco vezes para a Palma de Ouro. “Prefiro a competição, porque é mais instigante para mim e para a mídia. Não sou uma vaca sagrada do cinema”, brincou o cineasta, que venceu o prêmio de direção em 1999 por “Tudo Sobre Minha Mãe”.

Tanto não é sagrado que, na entrevista à imprensa mundial para divulgar seu 20º filme, o drama “Julieta”, apresentado nesta terça-feira (17), em Cannes, o diretor precisou responder sobre a revelação de que tanto seu nome quanto o de seu irmão, Agustín, constam no escândalo dos “Panama Papers” como donos de uma empresa offshore -que poderia ser usada para driblar o controle de arrecadação de impostos.

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Almodóvar não se aprofundou sobre a questão, alegando que ainda estão “investigando” o caso, mas que se considera um “mero figurante” na lista de nomes. “Se fosse um filme, nossos nomes nem apareceriam nos créditos”, disse o diretor. “O problema é que a imprensa espanhola nos tratou como protagonistas.”

O fato revoltou os espanhóis, que ainda se recuperam de uma grave crise econômica, e teria prejudicado o desempenho do filme nas bilheterias de seu país, um dos piores resultados da carreira do cineasta. Mas não influenciou a exibição em Cannes, onde o longa teve uma recepção calorosa.

“Julieta” é um dos dramas mais sóbrios da carreira de Almodóvar. Inspirado numa série de contos da escritora canadense Alice Munro, vencedora do Nobel de literatura em 2013, o filme segue Julieta, uma mulher que vive duas fases distintas na vida, ambas causadas por uma tragédia familiar.

Para reafirmar essa mudança, Almodóvar utiliza duas atrizes para o mesmo papel: Adriana Ugarte, que faz uma Julieta aventureira na juventude, enquanto Emma Suárez vive sua versão abatida.

“A ideia inicial era fazer o longa em inglês, em Nova York, e com apenas uma atriz americana. Mas não me senti seguro com o material em outra língua. Nos Estados Unidos, a mãe espera que o filho vá para a universidade e meio que se afasta. Na Espanha, esse vínculo nunca é rompido. Foi quando defini que seriam duas atrizes”, explica o espanhol.

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Julieta entra na lista de mães retratadas por Almodóvar ao longo dos anos, mas o diretor vê uma diferença básica entre essa personagem e as anteriores. “Fiz muito filmes sobre mães. Essa é mais vulnerável em comparação às outras, que eram mulheres poderosas e com capacidade de luta sobre-humana.”, disse o cineasta. “No fim, ela é um zumbi caminhando pelas ruas.”

Aos 66 anos, o espanhol diz que seu coração “está na época mais madura de Julieta”, que “não se sente velho, apesar de estar” e que todos os seus personagens o representa. “Nunca vou escrever uma biografia e proíbo alguém de fazer isso”, afirmou ele. “Minha vida está nesses 20 filmes, você pode pincelar momentos de mim ao assisti-los.”