1. Cátedra de literatura comparada, Waly Salomão
E como eu palmilhasse tesudamente
(sento-lhe a vara e a chula língua afiada,
salpico-lhe saliva, baba, porra)
a estrada, pedregosa, do mamilo
e, pentelhuda, do monto de Vênus...
*
2. Anônimo, Ana Cristina Cesar
Sou linda; quando no cinema você roça
o ombro em mim aquece, escorre, já não sei mais
quem desejo, que me assa viva, comendo
coalhada ou atenta ao buço deles, que ternura
inspira aquele gordo aqui, aquele outro ali, no
cinema é escuro e a tela não importa, só o lado,
o quente lateral, o mínimo pavio. A portadora
deste sabe onde me encontro até de olhos
fechados; falo pouco; encontre; esquina de
Concentração com Difusão, lado esquerdo de
quem vem, jornal na mão, discreta.
*
3. Desaires da formosura com as pensões da natureza ponderadas na mesma dama, Gregório de Matos
Soneto
Rubi, concha de perlas peregrina,
Animado cristal, viva escarlata,
Duas safiras sobre lisa prata,
Ouro encrespado sobre prata fina.
Este rostinho é de Caterina;
E porque docemente obriga, e mata,
Não livra o ser divina em ser ingrata,
E raio a raio os corações fulmina.
Viu Fábio uma tarde transportado
Bebendo admirações, e galhardias,
A quem já tanto amor levantou aras:
Disse igualmente amante, e magoado:
Ah muchacha gentil, que tal serias,
Se sendo tão formosa não cagaras!
*
4. Sua avó, puta de estrada, Moysés Sesyom
Mote
Sua avó, puta de estrada
Sua mãe é fêmea minha.
Glosa
A sua raça é safada
Desde a quinta geração
Seu avô foi um cabrão
Sua avó, puta de estrada
Sua filha, amasiada
Prostituta sua netinha
Esta pariu de um criado
Seu pai foi como chapado
Sua mãe é fêmea minha
*
5. Soneto, Mário de Andrade
Aceitarás o amor como eu o encaro?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.
Que grandeza... A evasão total do pelo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.
*
6. Sossegue Coração, Paulo Leminski
sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora
calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa