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Os Beatles, Elvis Presley e Madonna passaram pelas páginas da NME | Fotos: Reprodução
Os Beatles, Elvis Presley e Madonna passaram pelas páginas da NME| Foto: Fotos: Reprodução
  • Os Stones na capa de fevereiro de 1966
  • Robert Smith, do Cure, na edição de junho de 93
  • Nirvana na NME de abril de 95
  • Radiohead estampou a capa de dezembro de 2007
  • A polêmica Lady Gaga em abril de 2011

Não passou quase nada em branco. Elvis Presley. A Beatlemania. Os Rolling Stones. A geração paz e amor. O psicodelismo. O som progressivo. O punk rock. Joy Divison e New Order. O reggae e o hip-hop. Michael Jackson e Madonna. The Smiths e Morrissey. O britpop e a rivalidade entre Blur e Oasis. As raves e a música eletrônica. A estranha Lady Gaga. Todos os sons, tendências e ícones da música pop tiveram o seu espaço garantido na capa do semanário britânico NME, que chega aos 60 anos, celebrados em 2012, transformado, ele mesmo, num dos mais fortes símbolos da cultura que tão bem cobriu ao longo desse período.

Quinze anos mais "maduro" do que o seu maior concorrente no jornalismo musical, a revista norte-americana Rolling Stone, a publicação que chegou às bancas em 1952 — mesmo ano em que a rainha Elizabeth II chegou ao trono — ainda com o nome Accordion Times and Musical Express celebra a data com uma divisão na família. Enquanto sua versão on-line, o NME.com, se consagra como o mais popular site de música do planeta, com a incrível marca de 7 milhões de usuários por mês, a versão impressa (em formato revista, depois de muito tempo como jornal) enfrenta, desde 2003, quedas seguidas em suas vendas em banca, levantando dúvidas se suas famosas capas – muitas vezes com bandas supervalorizadas pela sua equipe – vão continuar se mantendo por muito tempo.

"Os valores que tornaram o NME famoso e respeitado ao longo desses 60 anos não vão mudar", garante Krissi Murison, 30 anos, editora desde 2009 e a primeira mulher no comando da publicação. "Isso significa excelentes textos, fotos de impacto, opinião firme e, acima de tudo, paixão pela música. É claro que a forma como o NME atinge o seu público mudou drasticamente nos últimos 15 anos, e essa evolução deve continuar. Nosso site conquistou esses 7 milhões de usuários por mês graças a uma ágil cobertura, combinada a aplicativos, rádio on-line e a versão digital do NME impresso. Ou seja, o nosso conteúdo está disponível em formatos cada vez mais variados, fazendo com que tenhamos uma audiência global e uma influência ainda maior do que antes."

Parada de singles

Responsável pela primeira parada de singles do Reino Unido, criada por influência direta da centenária Billboard (fundada em 1894), o New Musical Express – como foi conhecido antes de abreviar o seu nome – levou um tempo até encontrar o seu público e falar a mesma linguagem que ele. Isso aconteceu a partir dos anos 1960, com a explosão dos Beatles e a ascensão dos Rolling Stones. Foi a partir dessa mesma época que começou também a longa rivalidade do NME com outra publicação britânica, também especializada em música, a Melody Maker (que encerrou suas atividades em 2000, sem conseguir fazer a transposição de conteúdo para o mundo on-line). Lição de sobrevivência aprendida pelo NME, que hoje separa bem o que é impresso (lido, essencialmente, pelo público britânico) e o que é on-line (virtualmente, de todo o mundo).

"É claro que em alguns momentos as coberturas vão se cruzar. Apesar da separação das equipes, alguns editores produzem material para o jornal e para o site. Eles sabem como um pode completar o outro", diz Krissi. "Mas é claro que há diferenças. No jornal, estão as maiores estrelas da música do planeta. É onde os nossos jornalistas e fotógrafos têm espaço para se expressar, em coberturas mais aprofundadas e críticas que são, ao mesmo tempo, opinativas e informativas. O site fica, naturalmente, com as notícias mais recentes, que acontecem a toda hora, em textos e imagens menores."

Não foram, claro, só linhas retas nesses 60 anos de NME – mencionado no clássico "Anarchy in the U.K.", dos Sex Pistols, em um trocadilho com a palavra "enemy", ou inimigo. As várias guinadas e transformações da música fizeram a publicação tremer diversas vezes, com sua reputação abalada por críticas de que não conseguia acompanhar determinadas áreas. Foi assim nos anos 1980, por exemplo, quando seu staff ficou dividido entre abrir espaço ou não para os emergentes artistas de reggae e, principalmente, de hip-hop.

Postura

Na mesma época, o NME assumiu uma postura desafiadora perante o governo conservador de Margaret Thatcher, cobrindo assuntos como o avanço do racismo pilotado pelo partido National Front e o movimento Red Wedge, comandado por artistas progressistas como Paul Weller, Jerry Dammers e Billy Bragg. Em meio a essas discussões, se manteve intacto o nível dos jornalistas do NME, destacando nomes como Tony Parsons, Paolo Hewitt, Paul Morley, Mary Anne Hobs (hoje uma renomada DJ) e Steve Lamacq.

"Nunca faltou discussão em alto nível no NME, mesmo nas mais acaloradas questões sobre quais áreas deveríamos cobrir, entre erros e acertos. Como qualquer jornal ou revista que se preze, sabemos o valor de um bom texto. Mesmo hoje, com a necessidade de textos mais curtos e ágeis por conta da internet, seguimos procurando talentos em todas as partes, principalmente em blogs musicais, que são as versões modernas dos fanzines que tanto nos inspiraram."

Mesmo assim, com o staff constantemente renovado e o site em alta, o NME não pode fugir àquela que talvez seja sua maior batalha: escapar da extinção da sua versão impressa, hoje com uma circulação de apenas 27.650 exemplares, segundo estimativas, bem menos do que os 300 mil vendidos na metade dos anos 1970. Entre boatos de que vai passar a ser gratuito, a relevância do NME e suas famosas capas são cada vez mais questionadas.

"Aparecer na capa do NME ainda é um grande marco para bandas novas, e não vemos sinais de que isso vá mudar. Esses artistas sabem que isso tem um grande impacto junto ao público e à indústria", garante a editora.

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