De olho nas contradições de cada personagem
Robert Duvall ganhou o Oscar de melhor ator por sua interpretação contida de Mac Sledge, um cantor de música country falido cujas tempestades íntimas nunca rompiam a superfície melancólica, no filme A Força do Carinho (1983), dirigido por Bruce Beresford. Nos anos seguintes, fez um detetive durão, um pastor do Texas, Eisenhower e Stálin. O que une essas performances, diz ele, é o gosto por "explorar as contradições dentro de cada personagem".
Sua técnica equilibra preparação intensa e espontaneidade. Para interpretar Mac Sledge, freqüentou botecos e até cantou com uma banda de country improvisada. Para criar Euliss Dewey, um pregador pentecostal e canastrão sincero em O Apóstolo (1997), passou anos visitando igrejas freqüentadas por negros.
Duvall mergulha na pesquisa, mas não toma decisões definitivas sobre como desempenhar um papel até que as câmeras estejam rodando. Beresford lembra que, durante os ensaios para A Força do Carinho, as leituras do ator foram curiosamente "sem emoção", mas que o personagem desabrochou quando as filmagens começaram.
"Acho que nem é necessário ensaiar", afirma Duvall. "A primeira tomada é o ensaio, e você tem as tomadas 2, 3, 4 e 5 se for preciso."
Graças à capacidade de se entregar tão plenamente aos personagens, o ator tem alternado tremendas performances como coadjuvante e como ator principal sem nunca se fixar definitivamente.
"Talvez a razão de alguns atores serem tão brilhantes é que você não os identifica tão bem", diz Beresford, comparando Duvall a uma megaestrela como Tom Cruise, "que é sempre Tom Cruise em cada papel, não importa quão competente ou capaz ele seja".
Mesmo quando ocupa uma fração de tempo na tela, sabe encontrar satisfação. "Você pode fazer muita coisa se tiver o personagem bem definido ou se tentar expandir o papel e encontrar três dimensões", diz. Foi o que fez enquanto filmava uma ponta contracenando com Viggo Mortensen em A Estrada. "Improvisei uma cena que não estava no script e ela foi aproveitada", conta. Seu personagem, o Velho, está à procura do filho. Duvall sorri, com seus olhos triscando maliciosamente: "Não perguntei ao diretor. Não pedi permissão. Apenas disse a Viggo: Prepare-se, vou fazer uma coisa diferente aqui."
Tradução de Christian Schwartz
Nova York - Quando chegou a hora de escalar o ator para o papel principal de Get Low ficção baseada na história real de um recluso septuagenário do Tennessee que organizou sua própria "festa de velório", em 1938, enquanto ainda vivo não havia muitas opções para a produção do filme.
O personagem, o eremita Felix Bush, é um homem cansado que se exilou numa casa modesta por quatro décadas, assombrado por um pecado cometido na juventude. Objeto de comentários horríveis por todo o condado, Felix tem pavio curto, mas se comporta com uma dignidade madura. "É o tipo de papel em que você deseja confundir a lenda e a aura do personagem real com a lenda e a aura do ator", conta, por telefone, o diretor Aaron Schneider. "Nossa lista de possibilidades era curta: nossa lista era Robert Duvall."
Em janeiro, Duvall vai comemorar seu 80.° aniversário. Ator de Hollywood por 48 anos, ele se transferiu dos palcos para as telas em 1962, representando Boo Radley em O Sol Também se Levanta. Duvall faz parte de uma curta lista de atores que se aproximam de oito décadas de vida ou já chegaram a essa idade com pouca ou nenhuma desaceleração na carreira. Clint Eastwood tem 80. Michael Caine, 77. Morgan Freeman e Anthony Hopkins estão ambos com mais de 70. Como Gene Hackman, 80, está aposentado, a lista praticamente para aí.
Longevidade
A longevidade de Duvall leva a duas questões interligadas. Por um lado, o que ele fez para dar tão certo por todos esses anos? Por outro, há um fim à vista para esse seu desafio às leis da física Hollywoodiana?
"O fim está chegando. Tem que estar", diz Duvall, respondendo à segunda pergunta enquanto tomava uma xícara de chá Earl no hotel Four Seasons, em Manhattan. Vindo da Virgínia, onde mora numa fazenda de 360 hectares com a esposa, dois cachorros e vários cavalos, ele veste calça jeans preta, botas de caubói e um casaco de tiras jogado sobre seu peito de largo.
Falando de vários projetos que ainda estão na "linha de frente", Duvall deixa claro que não tem pressa de se aposentar. Há um drama ambientado no pós-guerra de autoria de Billy Bob Thornton que ele adora, um filme que quer fazer com seu velho amigo James Caan e uma refilmagem de Man Who Killed Don Quixote, filme em que Terry Gilliam escalou Duvall como o cavaleiro dos moinhos de vento criado por Miguel de Cervantes. "São personagens fantásticos", ele comenta. "Quero ver esses projetos saírem do papel."
Um bom começo para explicar a longevidade de Duvall é a variedade de personagens que o ator interpretou ao longo dos anos. Começou a atuar na década de 50 e chegou maduro a Hollywood "já era um ator completamente formado", afirma o crítico de cinema britânico Tom Shone.
Duvall ganhou proeminência nos anos 70 ao lado de figuras como Al Pacino, Dustin Hoffman e Robert De Niro, que trouxeram uma energia inovadora para as telas. Eles não eram simples "estrelas de cinema, como Errol Flynn ou Clark Gable", observa Bruce Beresford, que dirigiu Duvall em A Força do Carinho, de 1983, mas também "atores superlativos" que "se identificavam completamente com qualquer papel que estivessem interpretando."
Duvall se destacou em O Golpe, de Robert Altman (1968), e em THX 1138, de George Lucas (1971), mas foi em O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola (1972), em que interpretou o consigliere sangue-frio dos Corleone, Tom Hagen, que o ator emplacou sua primeira performance inesquecível.
Em 1979, Duvall deu uma guinada de 180 graus e ganhou elogios ao interpretar dois militares de cabeça-quente como napalm: Meechum Bull, em O Dom da Fúria, e o tenente-coronel Kilgore, em Apocalypse Now. Neste, a performance de Duvall "perturbou o asseio moral do filme" opina Shone complicando a questão do "pacifismo marginal" com seu personagem agressivo, fantástico e cheio de carisma.
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