São 54 páginas de fotografias que servem de documento da classe teatral curitibana. Regina Vogue diz com orgulho que "muita gente boa passou por ela", e agradece a todos os amigos em sua biografia, No Centro da Liça, lançada na última quinta-feira.
Mas nem sempre foram assim tantos amores. Sua chegada a Curitiba, em 1981, após anos de estrada com um teatro circo-pavilhão, foi um anticlímax.
"Existia um preconceito. Eu ia fazer um teste e me diziam é a mulher do circo. Mas o curitibano não vem de frente, vem de lado. Quando você conquista, ele abre as portas", conta a artista que fez de tudo, até faxina do Teatro da Classe (hoje José Maria Santos).
Sua formação, ela conta, se deu na lida rústica do pavilhão: um teatro com palco italiano, coxias, urdimento e tudo o mais, mas itinerante. "É um teatro bruto. Depois, aqui, fui me lapidando, trabalhando com outros diretores."
E ela apostou alto: chamou para montar Pluft, O Fantasminha, jovens que despontavam com sangue novo, como Edson Bueno e Rosana Stavis. Como ela iria pagar? "Vou vender em escolas", prometia. E vendeu.
Era 1991. No ano seguinte, montou O Menino Maluquinho, de Ziraldo, com direção de Fátima Ortiz. A produtora Regina Vogue surgiu assim, cavando trabalho e aprimorando o que se fazia por aqui no teatro infantil, que rendeu um centro de estudos de teatro para crianças do qual participam nomes como a coreógrafa Carmen Jorge e a produtora Giovana de Liz.
O trabalho em conjunto com os filhos Maurício, ator e diretor, e Adriano, produtor, é um dos gases da lâmpada que mantém a artista acesa.
Regina também atuou em peças memoráveis, como A Vida de Galileu (1989), de Celso Nunes, ao lado de Paulo Autran, e continua na ativa. Neste ano, integrou o elenco de Satyricon Delírio, peça indicada a nove troféus Gralha Azul (a premiação acontece nesta terça-feira, no Guairinha) e do longa Nervo Craniano Zero, de Paulo Biscaia Filho.
Espaço próprio
Os textos do livro, frutos de depoimentos de Regina concedidos a Viviane Burger e Luciano Balarotti, resumem o que ela se dispõe a contar a quem quiser ouvir, com detalhes pitorescos.
À infância pobre em Caçador (SC) e Porto Alegre ela dedica páginas apaixonadas, mas que considera poucas: "A gente tem que deixar no passado".
O grande salto da carreira, a obtenção de um teatro próprio para administrar, e com seu nome, também ganha pouco espaço.
A conquista veio de sua insistência em abordar o empresário Miguel Krigsner, que à época já imaginava um teatro dentro do Shopping Estação.
Foi durante a apresentação de sua versão para Os 3 Mosqueteiros que Regina conversou pela primeira vez com o empresário, ainda que não soubesse quem era o homem que a abordava com elogios. "Assisto a muitos musicais na Europa e suas peças não devem nada", teria dito Krigsner.
Ela o procurou então com o pedido de patrocínio e ousou sugerir também o espaço teatral. Quando voltou na semana seguinte, a maquete já estava pronta. "O que você acha de abrirmos um teatro e você administrá-lo?"
O Teatro Regina Vogue foi inaugurado em 2004 com a estreia de O Grande Rei Leão. "Não quero pegar Disney e botar no meu palco. Quero transformar sem ferir", defende.
O livro traz ainda curiosidades, como por exemplo, uma frase saída de uma das peças produzidas por Regina que virou piada interna da família Krigsner.
Resta um sonho a realizar: a criação de uma fundação para recolher crianças. "Eu comecei como necessidade, virou paixão e hoje é uma missão."
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