Hitchcock, que está chegando às locadoras e às lojas, em DVD e Blu-ray, é um filme divertido, envolvente e feito sob medida para cinéfilos, que gostam de saber o que aconteceu, ou teria ocorrido atrás das câmeras, nos bastidores do clássico Psicose (1960). O problema do filme do diretor britânico Sacha Gervasi é que ele lida com a complexa figura do mestre do suspense vivido por um Anthony Hopkins irreconhecível de forma algo anedótica, dando-lhe um tratamento por vezes caricato e com pouca ou nenhuma transcendência.
O roteiro de John J. McLaughlin, baseado no interessante livro Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose, de Stephen Rebello, retrata todo o processo de realização do maior sucesso de bilheteria da carreira do diretor. Mas vai além da obra: retrata como Alma (Helen Mirren, excelente), mulher de Hitchcock, teria sido uma espécie de coautora do longa-metragem, interferindo em várias fases de seu filme, do roteiro até a montagem final. Embora não costumasse frequentar os sets de filmagem, ela o fez em Psicose, quando o marido ficou doente.
O projeto surgiu no horizonte do diretor quando ele tinha 60 anos, havia acabado de finalizar Intriga Internacional(1959), que também se tornaria um êxito comercial, e buscava uma história boa o suficiente para filmar.
Foi quando caiu-lhe nas mãos o romance Psicose, de Robert Bloch, uma obra de pulp fiction que muitos consideravam de extremo mau gosto, por conta da violência excessiva, e das insinuações sexuais que a permeavam, algo considerado vulgar demais para um criador de sua estatura. Hitchcock, apesar do texto supostamente ruim hoje Bloch é um autor cult , caiu de amores pela história.
O livro contava, de forma ficcional, os crimes verdadeiros praticados em 1957 pelo serial killer Ed Gein. Norman Bates, o personagem criado por Bloch, e interpretado em Psicose por Anthony Perkins, é inspirado em Gein, assassino que guardava souvenires de suas vítimas geralmente mulheres em casa.
Por conta do preconceito em torno do livro, a Paramount, ao ficar sabendo do interesse de Hitchcock pela história, não quis produzi-lo. O diretor foi obrigado a financiá-lo com seu próprio dinheiro, numa jogada muito arriscada: se Psicose não obtivesse êxito comercial, o diretor perderia boa parte de sua fortuna. Coube ao estúdio apenas distribuir a fita. Alma o apoiou em sua decisão.
Hitchcock, portanto, não é uma cinebiografia, mas um recorte, que mostra um momento decisivo da vida e da carreira do cineasta. Esse é um de seus trunfos. Hopkins, apesar de ser um grande ator, não consegue fazer de Hitch um personagem tão complexo quanto era na vida real: reproduz seu físico peculiar, o jeito de falar, o senso de humor cortante. Gervasi, contudo, falha na missão de humanizar uma figura pública que já é, de certa forma, mitificada, e vista mais como um personagem do que como uma pessoa. GG1/2
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