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Zagueiro Jeci acredita na manutenção da boa fase contra o Paulista, a partir das 16h deste sábado | Albari Rosa / Gazeta do Povo
Zagueiro Jeci acredita na manutenção da boa fase contra o Paulista, a partir das 16h deste sábado| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

Retratos do passado, questionamentos do presente. As representações da Idade Antiga, que vão de templos com colunas dóricas à filósofos discutindo em praça pública, passando por pirâmides e faraós, estão sempre presentes. Imagens que se repetiram ao longo dos séculos e fascinaram gerações. A arte, a literatura e, mais recentemente, o cinema e a televisão, não cansaram de se apropriar do período para recriar a História da Humanidade.

A série Roma, uma co-produção milionária entre os canais HBO e a BBC, apresenta a história e construção do Império Romano e retrata as bases da política moderna – com suas intrigas, corrupções e divisões ideológicas – e os valores que se tornariam o princípio da cultura ocidental. Com duas temporadas já lançadas, a série se beneficiou do interesse na Antiguidade despertado por filmes como Gladiador, de Ridley Scott, e Tróia, de Wolfgang Petersen.

Para o professor de História das Escolas Positivo e autor do livro O Cinema e o Ensino da História (Nova Didática, 72 págs., R$ 20), Renato Mocellin, o cinema contribui para gerar nos alunos um interesse pela História. No entanto, cuidados devem ser tomados.

"O cinema simplifica e acaba gerando uma série de anacronismos. Roma, por exemplo, apesar de ter o latim como língua oficial, era uma Babel lingüística, o que não é retratado nos filmes", aponta o professor, que ressalta a importância de buscar também em outras fontes o complemento histórico.

A procura por compreensão de determinados comportamentos de figuras históricas a partir da ótica contemporânea é outro dos risco assumido pelas releituras da Idade Antiga. "A tortura, por exemplo, era uma coisa normal até o século 19. Hoje consideramos horripilante", lembra Mocellin.

Mesmo com as diversas interpretações a que a História se sujeita, existe uma certa idealização do passado, que se torna visível em romances históricos como Criação, de Gore Vidal, ou Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, e no cinema (leia mais nas páginas 2 e 3).

"As obras de ficção sempre buscam elementos da realidade, seja ela presente ou passada, na composição de seus enredos. Na Antiguidade podemos destacar uma série de episódios particularmente dramáticos e, se as convenções acadêmicas muitas vezes impedem os historiadores de representá-los de forma atraente e estimulante, seria lógico supor que o cinema pode e deve preencher essa lacuna", explica José Vasconcelos, professor de História Antiga da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).

Velhas questões que soam estranhamente atuais. Para a doutora em Antiguidade e professora da Unesp – Franca, Margarida de Carvalho, é inevitável que o público que assiste a produções ambientadas no passado faça algum tipo de relação com a atualidade.

"É no mínimo curioso e instigante retratar Gladiador – que pode servir para questionar a questão da violência no início do século 21–, ou mesmo Cleópatra – que pode levar ao questionamento da atuação de mulheres na política, filmado numa época que ocorreram vários movimentos feministas na Europa e nos Estados Unidos", esclarece.

Certos autores defendem que todo discurso é ideológico. Não seria diferente ao apresentar no cinema as civilizações do passado, ressalta o professor Mocellin. Assim, o filme 300 de Esparta, dirigido por Rudy Mate em 1962, mostrava os persas como uma representação da União Soviética, os grandes "inimigos" no período da Guerra Fria, e os espartanos como a democracia representada pelos EUA. Já em 300, dirigido por Zack Snyder e lançado este ano, o fanatismo dos persas remete à uma visão ocidental sobre o Islã. "Um retrato bastante maniqueísta", afirma Mocellin.

Mesmo com ressalvas quanto ao conteúdo, o professor de História Rogério Bastos Vieira, das Escolas Positivo, acredita no aumento de interesse pela disciplina a partir de obras ficcionais. "A curiosidade despertada nos alunos pelos filmes permite realizar uma análise crítica do período", explica o professor.

Aspectos mais polêmicos da vida de personalidades influentes na História, como sexualidade, vícios e manias costumam ser ressaltados na ficção, apesar de grande parte da produção ainda seguir a chamada História Tradicional, focada nos atores influentes do ponto de vista político. Na academia, por outro lado, há bastante tempo se estuda outros aspectos da historiografia, como o cotidiano, a alimentação, vestuários, etc, no que se convencionou chamar de Nova História.

Mas é na ficção que se forma um espaço onde a Antiguidade pode dialogar com os instáveis tempos contemporâneos. "O conhecimento do diferente sempre pressupõe que situemos o novo no quadro de referências daquilo que nos é familiar. E, nesse sentido, nada mais familiar do que o presente. É simplesmente natural que julguemos o passado a partir de nossos próprios valores, de nossa ‘visão de mundo’, e que com essa atitude freqüentemente incorremos no pecado mortal da historiografia que é o anacronismo, isto é, julgar o passado a partir do presente. Mas, se não partimos do presente, vamos partir de quê?", provoca José Vasconcelos.

Ainda sem resposta, mais uma vez nos voltamos para o passado para concluir que, mesmo sem encontrar soluções, a repetição das perguntas ao longo dos séculos pode fornecer ferramentas para compreender quem somos e como nos repetimos. E isso já é uma pista.

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