Na esteira da artista plástica carioca Beatriz Milhazes, que, em 2008, teve o quadro O Mágico vendido em um leilão da Sothebys, em Nova York, por cerca de R$ 1,6 milhão, cada vez mais artistas contemporâneos brasileiros têm o passe valorizado lá fora. A própria Beatriz bateu seu próprio valor este ano, quando outra tela sua foi vendida por R$ 1,8 milhão em leilão da Phillips de Pury & Company. Outra carioca, Adriana Varejão, teve a obra Parede com Incisões a la Fontana II arrematado por R$ 2,9 milhões.
E os exemplos são inúmeros: Bandeirinhas Estruturadas, de Alfredo Volpi (1896-1988) foi vendida por R$ 1,5 milhão, um recorde para o artista, em leilão da Christies, em novembro. No mesmo dia, o cearense Antônio Bandeira (1922-1967) teve a tela Ruas Azuis arrematada por R$ 910 mil. Na ocasião, o chefe de arte latino-americana da Christies, Virgílio Garza, declarou que a arte brasileira ganhou força no exterior, saltando do patamar de uma categoria emergente para o de protagonista tanto para colecionadores como para museus.
Garza tem razão: o Brasil passa por um momento extraordinário para as artes, sobretudo economicamente. Estima-se que, por ano, o segmento movimente quase R$ 1 bilhão. O impulso do mercado, que já tem até fundo de investimento específico (leia mais no quadro), começou há cerca de dez anos, seguindo o crescimento econômico do país e o surgimento de artistas novos e de qualidade. "O Brasil também é o país da moda, tanto por conta da Copa do Mundo e da Olimpíada quanto pelo desenvolvimento que tivemos. As pessoas estão querendo comprar arte brasileira, que tem potencial para crescer ainda mais", acredita o diretor-presidente da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, Jones Bergamin.
Bergamin conta que as obras brasileiras tiveram uma valorização média acima dos 100% nos últimos dez anos. Situação muito diferente das décadas de 1980 e 1990. O diretor da Simões de Assis Galeria de Arte, Waldir Simões de Assis, lembra de um trabalho de Volpi vendido em 1985 por sua galeria, que existe há 27 anos, a R$ 20 mil. Algo impensável hoje, diz o diretor-presidente da Bolsa de Arte. "A arte não era um ativo líquido. Hoje, sim. As pessoas enriqueceram, e querem ter obras de qualidade." Simões de Assis destaca ainda que, dentro deste contexto, o mercado de galerias de arte também melhorou. "Um colecionador de Brasília acaba consultando todas as galerias brasileiras, e compra o que mais lhe atrai."
Além disso, colecionadores brasileiros já investiam em arte antes do fenômeno internacional. "Aqui no Brasil, isso já era comum. O que está acontecendo é um olhar dos colecionadores internacionais para a arte brasileira", diz Bergamin. Um leilão realizado pela Bolsa de Arte no ano passado, por exemplo, vendeu o painel Sol sobre a Paisagem, de Antônio Bandeira, por R$ 3,5 milhões, para um colecionador não identificado. O quadro, que pertenceu a Adolpho Bloch, fundador da revista Manchete e da extinta rede de televisão de mesmo nome, é o mais caro já vendido em leilões no país.
Feiras
Adriana Varejão e companhia também tem feito sucesso nos eventos de arte internacionais. Na 5.ª edição da Pinta, feira de arte latino-americana realizada em Nova York em novembro, uma de suas telas, da série Saunas, saía por US$ 1,2 milhão, cerca de R$ 2,2 milhões. Um quadro de Cildo Meireles estava por R$ 1,5 milhão, em média. Na Art Basel, realizada na Suíça, Abrigo Poético 3, produzido pela artista plástica Lygia Clark (1920-1988) foi vendida por 1,8 milhão de euros, ou R$ 4,1 milhões, a obra brasileira mais cara já comercializada na história.
Caminho
A valorização de um artista e de sua obra é fruto de um trabalho de médio a longo prazo, frisa Waldir Simões de Assis. "Vários artistas que estão em voga hoje são da geração 1960, e tiveram uma carreira moldada para penetração no mercado, com mostras em museus fora do país." O professor de escultura do curso de artes plásticas da Faculdade Santa Marcelina, de São Paulo, Artur Lescher, salienta, no entanto, que o circuito do mercado não é único. "Engloba também o institucional, dos museus, e o acadêmico. Além de gente que trabalha arte com função social. Nesses casos, o mercado não tem a menor importância, e não é tradução para potencial artístico."
InvestimentoFundo capta R$ 40 milhões em 20 dias
No ano passado, foi criado o primeiro fundo de investimento em artes do país, o Brazil Golden Art (BGA). Com patrimônio estimado em R$ 40 milhões e cerca de 300 obras de arte de artistas brasileiros contemporâneos, o fundo demorou apenas 20 dias para atingir o capital necessário, sendo que o investimento mínimo era de R$ 100 mil. No total, conta com 70 aplicadores. O portfólio divide-se em 20% de artistas consagrados e 80% emergentes. O sócio da BGA investimentos, Heitor Reis, conta que a empresa já tem planos de lançar um segundo fundo do mesmo tipo. "É o melhor momento de preço, com artistas tendo reconhecimento da crítica internacional e em leilões. Há otimismo, primeiro pela economia do país, depois pela excelente produção de arte brasileira, com excelentes nomes."
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