A arte de influenciar

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Tempos cínicos, estes em que vivemos. Tão cínicos que só mesmo um filme altamente sarcástico para dar conta de criticá-los. É o que faz o diretor Jason Reitman em Obrigado Por Fumar, a melhor estréia da semana em Curitiba. Baseado no livro de Christopher Buckley, a comédia tem como personagem central um lobista. Sua missão espinhosa: defender os interesses da indústria do cigarro.

Nick Naylor (o ótimo Aaron Eckhart, de Erin Brockovich e Enfermeira Betty) adora o que faz, apesar de ser odiado. É o porta-voz da Academia de Estudos sobre o Tabaco, na verdade um conglomerado de empresas do ramo em busca de legitimidade. Bom de papo, costuma dizer que "Se você argumentar corretamente, nunca estará errado". Haja lábia para esconder os podres de uma indústria que mata cerca de 1.200 americanos por dia.

Uma de suas idéias mirabolantes é promover "a volta" do cigarro ao cinema. Para isso, alia-se a um influente agente de Hollywood (vivido por Rob Lowe), que apresenta um plano ainda mais cabuloso – fazer os personagens fumarem em um filme de ficção científica. Já que a perseguição aos fumantes está na ordem do dia, por que não mostrar um futuro em que eles vivam em harmonia com as outras pessoas? Em troca da propaganda, as grandes empresas de cigarro investirão uma bolada na produção, em parceria com o ditador de uma republiqueta (mais conhecido como "o Hitler do Pacifíco").

Mas os dias de glória de Nick podem estar contados. Um senador demagogo (interpretado por William H. Macy) e a repórter de um grande jornal (Katie "Tom Cruise" Holmes) estão em seu encalço. O primeiro quer intimá-lo a depor numa comissão do congresso que pretende obrigar os fabricantes de cigarro a estampar o símbolo de uma caveira nos maços (mais ou menos como acontece por aqui, com aquelas fotos pavorosas de gente amputada e fetos defeituosos). Já a jornalista, atrás de um furo de reportagem, deixa a ética para trás e vai para a cama com o lobista – tudo em nome da informação.

Apesar de todas as pressões, ninguém o preocupa mais do que o próprio filho, Joey (Cameron Bright), de 12 anos. Numa tentativa de se reaproximar do garoto, que mora com a mãe e o padastro, Nick decide levá-lo junto em viagens de trabalho. Mas como explicar e, principalmente, justificar para ele suas atividades? Surge então um dilema moral, que vai mudar os rumos da história.

Obrigado Por Fumar parte da indústria do cigarro para discutir ética, hipocrisia, liberdade de escolha e, acima de tudo, a famosa "arte de influenciar pessoas". Afinal, o conceito de lobby se ampliou, extrapolando a política e marcando as relações sociais. Há lobistas em todos os cantos: no ambiente de trabalho, na universidade, no comércio, no meio artístico, etc. Num mundo onde parecer é tão importante quanto ser, vence quem souber se vender melhor. Nem que, para isso, a estratégia inclua também um bom "agradinho". GGG1/2