Jair Rodrigues bem que tentou se "modernizar". Seu último disco de carreira, Intérprete (2002), era uma tentativa de adequar sua voz vibrante a um padrão de produção mais limpo, sofisticado. O repertório trazia temas de compositores até então nunca gravados pelo cantor, como Djavan, João Bosco e Gonzaguinha. O trabalho recebeu uma indicação ao Grammy Latino, mas não agradou totalmente ao artista. "Aqueles arranjos modernos me complicaram na hora de cantar. O Jairzinho, meu filho, que produziu o CD, estava imbuído de muita boa vontade, mas aquilo não ficou com a minha cara", revela.
No ano passado, Jair soltou no mercado A Nova Bossa por Jair Rodrigues, elogiado apanhado de canções na linha "banquinho e violão". Mas, como faz questão de intercalar projetos especiais com discos de carreira, o intérprete sentiu que havia chegado a hora de gravar um novo CD de composições inéditas. "Não quero fazer o que tudo mundo faz, que é remexer no baú de músicas antigas", garante.
Sempre eclético, Rodrigues resolveu dedicar boa parte do registro, batizado de Alma Negra, ao seu ritmo preferido: o samba. "Das 14 faixas do trabalho, nove são sambas. Eu andava esquecendo um pouco esse lado de 'samba sambão', uma coisa que está enraizada em mim. Mas agora venho com muito jongo, samba romântico, samba enredo, samba levanta povão", diverte-se.
A percepção de que deveria voltar às origens surgiu das apresentações ao vivo, habitat natural de quem começou a carreira como crooner em boates. "Cerca de 80% dos meus shows são em praças públicas ou clubes, para muita gente. E o que as pessoas mais pedem para eu cantar são sambas", explica Jair, que canta em Antonina no próximo dia 16, na festa de encerramento do Festival de Inverno da UFPR. Ainda assim, Alma Negra também passeia por outros gêneros, como seresta, moda de viola e batucada baiana. "Isso é coisa de crooner, mesmo. Quem trabalha na noite tem de cantar de tudo, senão o contratante manda embora", diz.
Com 11 faixas inéditas, o novo álbum abre espaço para compositores emergentes e figuras de peso como Martinho da Vila e dona Ivone Lara. Produzido por Marcelo Maita e Paulinho Dáfilin, o disco ainda conta com as participações especiais de três filhos de famosos: Altemar Dutra Jr., Max de Castro (herdeiro de Simonal) e Luciana Mello ("pimpolha" do próprio Jair).
Como não poderia deixar de ser, há também um pot-pourri, marca registrada da trajetória do cantor. "No meio de um show agitado, é chato ter de parar e começar a próxima música em outro tom. Isso cansa o público. Então eu peço uma nota qualquer e canto umas oito músicas de uma só vez. O pessoal fica feliz, porque ouve tudo o que quer", afirma o artista, que desta vez registrou "Depois da Despedida" (de dona Ivone Lara e Délcio Carvalho), "Recado" (Paulinho da Viola e Casquinha) e "Madrugada e Amor" (José Messias).
Notório pelos medleys gravados com Elis Regina, Jair conta que teve de reduzir a "cota" de trechos de canções em suas gravações. "Antigamente, eu chegava a cantar 11 músicas na mesma faixa de um disco. Agora, se cantar quatro, sou obrigado a pagar os direitos autorais de quatro canções diferentes. Por isso, eu me limito a três, para pagar só por uma. Até porque o sujeito é obrigado a cantar a letra inteira, e não apenas trechos, como era antes", ensina o senhor pot-pourri.
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