A busca pelo conhecimento

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Opinião

Uma prosa limpa e direta

Divulgação

Na literatura nacional, são poucos os escritores que optam por uma prosa sem maiores floreios. Seja por uma questão de estilo amplamente utilizada em nossa história literária, seja pelo desejo de explorar a riqueza da língua portuguesa – sem dúvida, uma das mais belas do mundo –, fato é que adjetivações, imagens poéticas e construções experimentais são elementos presentes na literatura brasileira.

Roberto Gomes, em O Conhecimento de Anatol Kraft, porém, parece fugir dessa corrente. Prezando a dinâmica da narração, rápida e instigante, o autor consegue alcançar a beleza poética com palavras simples, mas dispostas de maneira consciente.

Outro mérito do livro é uma distinção de sinônimos: o personagem principal não é o protagonista. Ou melhor, há um personagem principal – Anatol Kraft – que atrai todos os coadjuvantes, como um ímã, e há o narrador Henrique, sob cuja ótica se desenvolve a trama. Não se trata necessariamente de um antagonista, apenas mais um enfeitiçado pelo intelecto de Kraft. Gomes faz com que o leitor partilhe do fascínio de Henrique pelo "gigante", e o faz por revelar pouco a pouco detalhes sobre a vida de Kraft. Ao mesmo tempo em que Henrique tenta saciar sua sede por desvendar o mistério que reside no seu objeto de estudo, precisa lidar com as complicações de sua própria vida – uma incompatibilidade entre a busca intelectual e a vida com o corpo físico, uma contradição que aflige o próprio Anatol Kraft ao final do romance.

Serviço:

O Conhecimento de Anatol Kraft, de Roberto Gomes. Criar/Insight, 116 págs., R$ 27. GGG1/2

Yuri Al’Hanati, repórter

Três anos após o lançamento do livro Júlia, sobre uma parte da vida da poetisa Júlia da Costa (1844-1911), o escritor e colunista da Gazeta do Povo, Roberto Gomes, apresenta hoje, a partir das 19 horas, no Original Beto Batata, seu sétimo romance, O Conhecimento de Anatol Kraft. Trata-se de um romance curto, narrado em primeira pessoa, que conta a história de Henrique, um bancário que se vê tomado de fascínio por Anatol Kraft, velho alemão dono de um antiquário. Kraft, por sua vez, tem uma visão muito peculiar sobre o mundo e uma aparência distinta, vermelho e grandalhão.

"Anatol construiu seu mundo de palavras. Isso fascina Henrique, que é um aspirante a escritor", conta Gomes. Ao mesmo tempo, Henrique se apaixona por Marina, a namorada de Anatol, muitos anos mais jovem. Ele tenta lidar com essa paixão enquanto se encontra com Tereza, sua ex-namorada, com quem mantém uma relação aberta.

O autor explica que a referência para construir o personagem que fascina o narrador e protagonista da história veio de experiências autobiográficas, de sua juventude em Blumenau (SC): "Tive muitos professores alemães na escola, eles eram extravagantes para mim na época. Tinham acesso à cultura do mundo e falavam várias línguas. Mais tarde, quando era adolescente e estudava à noite, encontrava esses professores nos bares, e interagia com eles. Sempre me fascinaram essas figuras cheias de conhecimento no limite do delírio. Anatol é um pouco assim".

A fascinação que Anatol Kraft exerce sobre Henrique surge quando, no supermercado, Anatol pergunta ao bancário, exibindo um ovo de galinha, o que era aquilo. A figura do ovo volta em diversos momentos do romance, alternando seu significado conforme os personagens também evoluem. "Escrevi a passagem do ovo de maneira muito espontânea, mas ela acabou ficando presente ao longo do livro. Acho que a simbologia do ovo é uma busca que todos os personagens, à sua maneira, fazem. É uma busca por conhecer o outro e também a si mesmo", explica, e completa: "Hen­­­­rique busca algo em Anatol que falta a ele mesmo, e Anatol busca em Marina algo que falta em si".

Editoração

Décimo sexto livro do autor, que já publicou obras de filosofia, ficção e ficção infantil, O Conhecimento de Anatol Kraft marca o retorno da Criar Edições, editora do próprio Gomes, criada em 1981 e inerte há quatro anos. Para ele, o processo da escrita e de editoração são quase indissociáveis: "Meu pai era jornalista de um pequeno jornal em Blumenau. Imprimíamos um jornal no quintal de casa, e eu adorava mexer com aqueles linotipos, as placas de chumbo e as impressoras barulhentas. Talvez por isso goste tanto de editar", lembra Gomes, que falou sobre essa experiência no livro Todas as Casas, de 2004. A editora de Gomes já publicou livros de escritores como Cristóvão Tezza, Alice Ruiz e Helena Kolody, entre mais de 70 títulos. O novo romance é publicado em parceria com a Editora Insight.

"– Observe! – o gigante ergueu um dedo pedagógico. – É um ovo para nós, que desejamos comê-lo. É um filho para a galinha e para o galo. É obra da mais exata geometria para um matemático. E a maior das células para os biólogos. Uma construção sólida para o arquiteto. E, para o esteta, o mais sublime exemplo de perfeição.

Henrique sentiu que balançava a cabeça como um idiota a cada uma das frases do gigante: (...)

Pensou em despachá-lo usando a mesma estratégia que fora eficiente com outros doidos: um sorriso cúmplice, um resmungo qualquer simulando concordância, uma despedida amistosa. Não funcionou".

Trecho de O Conhecimento de Anatol Kraft, de Roberto Gomes

Serviço:

Lançamento de O Conhecimento de Anatol Kraft, de Roberto Gomes. Espaço Cultural Beto Batata (R. Prof. Brandão, 678), (41) 3262-0840. Hoje, às 19h30. Entrada franca.