Brasília - Glória Pires é a cara da novela das oito. O rosto que habituamos a ver na tevê desde quando, aos 5 anos, estreou na novela A Pequena Orfã, em 1969. Nem na infância nem mais tarde a atriz experimentou a mesma visibilidade no cinema (teatro, não faz porque assim o quis). Até o ano passado, não tinha atuado em mais de dez filmes. Mas a equação se inverteu recentemente. E Glória, fora do ar desde Paraíso Tropical (de 2007), se tornou, também, a cara do cinema nacional.
Entre este ano e o próximo, três das produções de maior destaque no país, por motivos distintos, contam com sua estampa e talento. A primeira foi o repeteco da parceria com Tony Ramos e o diretor Daniel Filho, Se Eu Fosse Você 2, atual campeã de bilheteria da Retomada com 6 milhões de espectadores. E há grandes chances de que esse número seja ultrapassado, em breve, por outro filme em que atua: Lula O Filho do Brasil, de Fábio Barreto.
Se os dois de alguma forma ainda soam televisivos, até pela associação de ambos com a Globo Filmes, o terceiro rompe com esse padrão. É Proibido Fumar, no qual contracena com o titã Paulo Miklos, é cinema "de autor". No caso, da diretora e roteirista Anna Muylaert, revelada em Durval Discos do qual Glória é "fã". Lançado no Festival de Brasília, o modesto longa recebeu oito troféus Candango na semana passada, inclusive o de melhor atriz para Glória em sua primeira premiação em um festival de cinema. Deve estrear em São Paulo e Rio de Janeiro no dia 4 de dezembro.
"Para mim não importa o tamanho ou alcance da produção nem o público com quem vai falar, mas as minhas personagens", diz a atriz. Lindú, a mãe de Lula, e Baby, uma quarentona solitária, são personalidades e mundos distintos. "Mas elas se encontram nos relacionamentos humanos", entende a atriz.
Diante de Baby, Glória se lembra de um reality show de que gosta, o Esquadrão da Moda. "Sempre fazem análises psicológicas das pessoas pelas roupas. E a Baby (com franjinha e figurino anos 70) se enquadra. Ela está parada em um momento feliz da sua vida, tão fechada no mundo que criou que não tem feedback nenhum", analisa.
Glória ganhou o papel depois que Anna Muylaert trocou sua concepção original de que a personagem teria de ser feia pela clareza de que problemas de autoestima não dependem apenas da beleza real. A atriz aparece fumando maconha, dizendo palavrões e em enquadramentos pouco (ou muito) generosos de seu quadril. "Glória é muito simples, uma atriz despojada. Parece que tem controle, mas se joga", descreve a diretora.
Uma intérprete mais intuitiva e observadora do que guiada por conceituações. Seu trabalho, diz a atriz, "tem muito da minha vivência e muito de observação. É a percepção de uma forma de falar e agir, uma maneira de estar no mundo."
A polêmica em torno do filme de Fábio Barreto não a deixou incólume. Questionada sobre a possibilidade de a obra pesar a favor do governo nas próximas eleições, ela respondeu que a pergunta deveria ser dirigida a "uma pessoa politizada, quem sabe a um cientista político".
O que a atraiu em Lula, diz, foi pensar como a falta de horizonte inicial terminou na Presidência. "É uma história genial porque é uma realidade. Para as pessoas de classe média alta, é importante. Mas fala também com pessoas de baixa renda que têm pouco acesso. É um fortalecimento da autoestima brasileira", defende, tomando partido do "amigão" de longa data Fábio Barreto, com quem estreou em 2002, em Índia, a Filha do Sol, e fez também O Quatrilho, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
E agora o Lula. "Fábio veio com essa proposta, que a princípio não entendi. Você vai filmar a vida do Lula por quê?", lembra ter perguntado. "Quando li o roteiro fiquei impressionada, achei muito bem escrito." A voz gentil da atriz ganha ênfase, pela primeira vez, ao defendê-lo das críticas: "Tenho lido tanto: não se fala disso, não se fala daquilo. Façam! Façam esse trecho da história que vocês querem contar, tem chão para isso. É bem rica a vida do Lula."
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*A repórter viajou a convite do Festival de Brasília.
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