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Vida noturna

A casa da balada curitibana

Sinônimo de balada de bairro, a casa noturna Sistema X completa 35 anos de atividades e se reinventa para superar o estigma popularesco

Gilmar Berte: pioneiro da noite, o empresário comanda a Sistema X desde 1978 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Gilmar Berte: pioneiro da noite, o empresário comanda a Sistema X desde 1978 (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)
Ancestral do DJ, Berte operava os gravadores de rolo no final dos anos 1970 |

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Ancestral do DJ, Berte operava os gravadores de rolo no final dos anos 1970

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Se a noite curitibana tem um comandante ele é Gilmar Berte. Seu quartel-general é a casa noturna Sistema X, empresa criada por ele em 1978 e que, desde então, resiste como referência de balada popular da cidade.

Devoto das lições do livro A Arte da Guerra, o pequeno tratado de estratégia militar escrito há 24 séculos pelo general chinês Sun Tzu, Berte as aplica para tocar seu negócio no ramo em que foi pioneiro e onde viu concorrentes surgirem e desaparecerem, enquanto nunca parou de se reinventar.

"É preciso conhecer seu inimigo – que às vezes pode ser você mesmo – e conduzi-lo para condições desfavoráveis", filosofa.

Com esta estratégia, a Sistema X sobreviveu a diversos planos econômicos e crises nos anos 1980 e 1990. Passou por cima de campanhas difamatórias da "imprensa policial sensacionalista", que tachava a casa como reduto de confusões e arruaças. "Se existe um problema de violência, nós estamos inseridos como vítimas, a exemplo do resto da sociedade. Nós não fabricamos a violência", argumenta.

Neste sábado, depois de uma rápida reforma, a Sistema X reabriu para comemorar 35 anos de boêmia. Com espaço seguro para três mil pessoas e equipamentos de tecnologia de ponta, a casa enfrenta um novo desafio: incorporar ao público fiel, que vive nos bairros de periferia da cidade, aquele que ainda resiste a frequentar a casa em função da fama popularesca que ela ganhou em suas três décadas e meia de funcionamento.

"As pessoas que não conhecem a Sistema X às vezes têm uma ideia errada. Se viessem, veriam que a realidade é bem diferente. Estão todos convidados", intima.

Gravador de rolo

Para entender a importância de Berte como barão da noite curitibana é importante conhecer a sua trajetória de desbravador das baladas locais.

Nascido na zona rural de Toledo, no oeste do estado, Berte veio com a família para Curitiba em 1976. Fixaram-se em Santa Felicidade, na época um lugar bucólico, cheio de chácaras. Logo começou a trabalhar como carregador de sacos num moinho de farinha do bairro, lida apropriada para seu porte de boxeur peso pesado.

Ao mesmo tempo, alguns amigos o convidaram para ser sócio de uma "equipe de som", grupos que possuíam equipamentos e animavam bailes, saraus e boatinhas nos clubes de Curitiba.

Naquela época de embalos de sábado à noite, essas equipes eram populares no país. A mais famosa era a Furacão 2000, que organizava bailes de música black no Rio de Janeiro.

O nome veio de uma solução acústica criada por Berte e seus parceiros de então, que passou a ser o diferencial de sua equipe.

"A gente inovou. Colo­cávamos nosso equipamento não tão potente, mas posicionado nos quatro cantos do salão para criar o som em X. Era menos agressivo que os paredões que as outras equipes faziam e mais envolvente", explica.

Por volta de 1981, os parceiros ficaram pelo caminho e Berte seguiu sozinho como operador de som, tocando com gravadores de rolo (veja foto ao lado).

Em 1985 surgiu a oportunidade de locar o imóvel da Sociedade Trieste, em Santa Felicidade. Ali, ele abriu a Sistema X.

A casa era inovadora, conta Berte, a primeira com duas pistas no país. "Para agradar a um leque maior de clientes com gostos musicais diferentes", conta.

Um sucesso. A casa reunia um público de duas mil pessoas por noite. Até o início dos anos 1990, a Sistema X reinou sozinha na noite de Curitiba. Com o êxito, Berte ampliou o negócio e criou uma rede de clubes: Milleninum, em Pinhais; Magic, em Guarapuava e Ponta Grossa; e 360 Graus, em Curitiba, além da Sis­­­­tema X.

Em 2002, o boom imobiliário de Santa Felicidade transformou os sítios em condomínios que o repeliram da vizinhança. Berte redefiniu a estratégia. Fechou todos os clubes. Em 2006, reabriu a Sistema X em seu endereço atual, em um antigo galpão da cidade industrial.

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