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Foi o tempo que levou para a instalação de Ai Wei Wei chegar de navio da Itália ao Porto de Paranaguá.
Programe-se
Bienal Internacional de Curitiba. De 31 de agosto a 1º de dezembro, em vários espaços expositivos da cidade. Mais informações no site www.bienaldecuritiba.com.br.
Desde o início de sua carreira, o artista chinês, fotógrafo e designer Ai Wei Wei, conferiu um tom político ao seu trabalho. Uma de suas fotos mais famosas, a de sua esposa levantando a saia em frente à Praça da Paz Celestial, em Pequim, foi feita no dia em que se lembravam os cinco anos de uma onda violenta de repressão no país. A ironia é outro elemento forte de suas obras: a fotografia Middle Finger, por exemplo, registra uma mão nada educada mostrando justamente o "dedo do meio" para vários símbolos mundiais, desde a Casa Branca até a Torre Eiffel. Parte da transgressão do artista poderá ser vista na Bienal Internacional de Curitiba, que tem início no próximo dia 31: uma instalação feita de bicicletas, chamada Very Yao, será exposta no pátio do prédio da Secretaria de Estado da Cultura (Seec).
A obra, de sete metros de altura, chegou ao Brasil de navio, está no Porto de Paranaguá desde o fim de julho e aguarda os trâmites aduaneiros. A viagem foi longa: saiu da Itália no dia 22 de junho (estava exposta na Bienal de Veneza), e seguiu por terra até o porto de Valência, na Espanha, e depois via mar até o Paraná. "Para nossa alegria, tudo deu certo e fluiu dentro do cronograma esperado", diz o diretor-geral da Bienal de Curitiba, Luiz Ernesto Pereira Meyer.
O prédio escolhido para a instalação da obra foi selecionado pelo próprio Ai Wei Wei. Depois de o curador Teixeira Coelho incluir o nome do artista entre os 150 escolhidos, começaram os trâmites para a vinda da "escultura de bicicletas", e vários locais foram mostrados para o chinês. "O prédio da Seec é um edifício importante, e fica em sintonia com o pensamento de Ai Wei Wei, que tem uma postura de defesa do patrimônio histórico mundial, que, para ele, deve estar à frente do desenvolvimento urbano das cidades", destaca Meyer. Very Yao poderá ser visitada gratuitamente durante toda a Bienal (que segue até o dia 1.º de dezembro).
Polêmico
O artista está em alta no Brasil e no mundo nos últimos anos, não somente por conta de sua arte contestadora, mas também pelo contexto político que o envolve. Wei Wei, um dos responsáveis pela obra Ninho de Pássaro, no Estádio Nacional de Pequim, local dos Jogos Olímpicos em 2008, é um crítico ferrenho do governo chinês e da falta de liberdade de expressão.
Em 2011, passou dois meses preso (foi detido pelo governo chinês quando embarcava para Hong Kong), em um local secreto, sem explicações claras (uma das alegações foi a de que ele teria sonegado impostos). Recebeu uma multa de cerca de R$ 4,6 milhões pela suposta evasão fiscal ele afirma que as acusações foram forjadas em retaliação a sua postura de oposição.
Seu ateliê em Pequim foi invadido horas depois por dezenas de policiais que confiscaram uma série de itens e interrogaram funcionários. Ele foi proibido de utilizar o Twitter e seu blog foi bloqueado diversas vezes além disso, suas viagens ao exterior foram restritas.
No Brasil, sua obra tem sido festejada em 2013: além da Bienal em Curitiba, em fevereiro, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo promoveu Interlacing, a primeira individual do artista no país, com uma centena de vídeos, textos e fotografias. Também é uma "celebridade" nas redes sociais: ultimamente, incluiu, além dos textos de 140 caracteres, fotos no Instagram para se comunicar com o Ocidente. Seguido por 35 mil pessoas, posta imagens da cidade e de seu dia a dia, incluindo os filhos e gatos.
Também quer enveredar pelo caminho da música e, em março último, disse em entrevista ao jornal britânico The Guardian que pretende lançar um CD de heavy metal que "expressará sua opinião." O disco deve ser distribuído pela internet.
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