Uma coletânea de textos de uma publicação lançada 37 anos atrás não promete ser exatamente um sucesso de vendas, certo? Todo mundo sabe que jornal do dia anterior só serve para embrulhar peixe na feira ou cobrir o chão quando as paredes precisam ser pintadas. Por estranho que pareça, a antologia de O Pasquim (Desiderata, 352 págs., R$ 69), lançada no mês passado, vem contrariando essa lógica. Mesmo sem receitas de comidas exóticas ou a assinatura de uma escritora do cacife de Bruna Surfistinha, o livro entrou para a lista dos mais vendidos deste mês.

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A antologia traz o resumo dos 150 primeiros números do tablóide – cobre o período de 1969 a 1971. Ainda neste ano, sairá o segundo o volume. A coleção completa estava prevista para sair em quatro volumes, a serem publicados até o fim de 2007. No entanto, o sucesso do primeiro volume já faz a editora pensar em criar uma série mais longa, desde que os organizadores consigam manter o nível do primeiro nos próximos lançamentos.

O último volume deve trazer inclusive material inédito do jornal. São os textos e desenhos que não puderam ser publicados porque a censura não permitiu. Não é pouca coisa. Afinal, o jornal foi lançado justamente no período mais duro do regime militar, em plena vigência do hediondo AI-5. "O último volume deverá conter os dez últimos anos do jornal, quando ele já estava decadente", afirma Sérgio Augusto, um dos organizadores da série de antologias, ao lado de Jaguar. "Junto com o material deste período, dos anos 80, vamos usar esse material inédito, até para que o volume fique mais interessante", completa.

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Sérgio Augusto diz que ainda não há previsão exata para as próximas datas de lançamento, mas sabe-se que haverá um belo espaçamento entre uma edição e outra. Até para que o leitor contumaz, que queira ter em sua casa a coleção completa, tenha tempo de economizar mais R$ 70 para a próxima aventura.

E dá para imaginar que os fãs – os mesmos que transformaram o jornal em um sucesso de vendas, com mais de 200 mil exemplares por edição já no primeiro ano de existência – vão ficar entusiasmados com a chance de ter o material bem encadernado e pronto para ir para a estante, depois de vários anos sem contato com o jornal oficial da esquerda brasileira. No final das contas, O Pasquim talvez seja o único jornal brasileiro dos últimos 50 anos que dificilmente se imagina cobrindo paredes. Ou embrulhando peixes. Palmas para O Pasquim.