Bolso
R$ 333,60 é quanto o curitibano gastaria em média, durante um mês, para comprar um livro, dois CDs, um DVD, pegar um filme por semana na locadora, ir uma vez por semana ao cinema, assistir a um show nacional e a uma peça de teatro, ir uma vez ao museu e comprar uma revista por semana. Estão excluídos os gastos com locomoção, estacionamento e alimentação.
Shows cancelados, ingressos proibitivos, baixos índices de público. O panorama para a cultura e entretenimento em Curitiba (e no Brasil, em geral) está longe de ser dos mais animadores, ao menos para grande parcela da população, que tem rendimento médio de R$ 958, segundo dados de 2006, divulgados pelo IBGE para o Paraná. Mas, afinal, o que contribui para a escalada de preços no setor cultural?
"Atualmente, são dois grandes problemas: o alto custo da produção, com cachês elevados e poucos apoios, e a meia-entrada", aponta Fábio Neves, da Seven Shows, que, este ano, trouxe à cidade espetáculos como o do Cirque du Soleil e Mágico de Oz. Para o produtor, esses fatores são responsáveis pelo aumento significativo dos valores de ingressos e eventuais cancelamentos. "Só este ano, foram inviabilizados dois espetáculos por falta de patrocínio e custos altíssimos", revela.
O preço para trazer à cidade um show ou uma peça de teatro de fora é calculado a partir do valor do cachê do artista que, no caso dos músicos, aumentou enormemente por causa da pirataria e da queda nas vendas de discos , do custo da produção incluindo hotéis e passagens aéreas , e estimando que a maior parte das entradas será vendida a metade do preço, para idosos e estudantes.
"Não temos como saber quantas meias-entradas serão vendidas. Como não existe fiscalização, o número de carteirinhas falsas e de pessoas que pagam meia sem apresentar o documento é imenso. Fora as despesas com segurança e a parte da bilheteria, que fica com o artista e com o espaço exibidor", explica Neves.
A equação é cruel. Produtores assumem riscos altos para trazer espetáculos, gravadoras encarecem os CDs graças à pirataria, editoras se deparam com uma população que quase não lê. E o público paga o (alto) preço.
Aos poucos, algumas opções começam a despontar. Gravadoras como a Sony & BMG e a Universal já lançam títulos recentes de seu catálogo a preços menores. No caso da Sony, o CD Zero, com cinco músicas, sai por R$ 9,90. Já a Universal lançou álbuns completos em embalagem diferenciada por R$ 10,90 (nacionais) e R$ 14,90 (estrangeiros) saídas encontradas para enfrentar a crescente pirataria.
No caso dos livros, certas editoras como Companhia das Letras, LP&M, Record e Martin Claret lançam edições de bolso a preços populares. É possível, por exemplo, encontrar Nove Noites, de Bernardo Carvalho, por R$ 18. Na versão "oficial", o livro sai R$ 37,50.
A questão se complica quando o assunto são shows. "O preço do ingresso está muito caro para o público, mas o produtor é obrigado a buscar as despesas estáticas, já que não temos como saber quantos ingressos serão vendidos à meia-entrada", explica a produtora Verinha Valflor, que aponta a necessidade de criar um sistema de cotas para estudantes e idosos, como já acontece em Belo Horizonte, além de combater e fiscalizar as carteirinhas falsas. "Assim, o custo do ingresso certamente seria menor", conclui. Foi a baixa vendagem de ingressos que inviabilizou o show do saxofonista Kenny G, por exemplo. A entrada mais cara custava R$ 460.
Outro problema levantado pela reportagem é a falta de espaços de médio-porte para espetáculos na cidade. Um show com potencial para atingir um grande público, como o do cantor Daniel, que esteve na cidade na última semana, acaba tendo que ser apresentado no Teatro Guaíra espaço com cerca de 2 mil lugares , o que encarece o preço final para o espectador.
Os valores se repetem no caso dos cinemas uma sessão em multiplex, no fim de semana, pode chegar a R$ 18 , embora o espectador tenha a opção de assistir filmes em sessões promocionais, com horários diferenciados, ou aproveitar mostras e especiais. Com paciência e alguma persistência, é possível encontrar programas culturais de baixo custo. O que ajuda, mas não resolve a questão.
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