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Gregório Duvivier: “é difícil fazer política e agradar” | Aline Arruda/Divulgação
Gregório Duvivier: “é difícil fazer política e agradar”| Foto: Aline Arruda/Divulgação

Após a entrevista coletiva de lançamento do filme “Porta dos Fundos – Contrato Vitalício”, na última terça-feira (21) em São Paulo, Gregório Duvivier era um dos mais requisitados pelos jornalistas. Afinal, ele não economiza nas palavras. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele fala sobre a atuação política, os limites do humor e como avalia as leis de incentivo à cultura no Brasil.

Você tem uma postura política engajada, por muitas vezes defendeu o atual governo, o que rendeu admiradores, mas também muitos detratores. Como lida com isso?

No Brasil é muito difícil fazer política e agradar. Eu procuro manifestar minha opinião, sei que muitos vão concordar e outros tantos não, é natural.

Você acredita que essa sua postura possa afetar o desempenho do filme?

O Porta dos Fundos é um grupo vasto, quem pensa em boicote ou coisa do gênero por causa disso é desinformado. Recentemente, houve um movimento para boicotar o Porta dos Fundos e tentar nos prejudicar. Perdemos um número de seguidores, mas ganhamos um número ainda maior. Os haters são muito barulhentos, mas na prática não acredito que consigam fazer algo de maior impacto.

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O filme não explora muito o humor político. Por quê?

A gente sempre gostou de fazer vídeo sobre tudo, político ou não político. Temos vídeos sobre política, mas também sobre sexo, relacionamentos, religião... é natural que em um filme não conseguíssemos falar de tudo. Mas eu acho uma coisa boa o filme ser pouco político. Existe uma frase de que a função do humorista na guerra não é só de arma, mas também de alimento nas trincheiras. A gente pode fazer um humor de entretenimento, para as pessoas esquecerem da realidade por duas horas. Dessa maneira estaremos alimentando-as para a luta diária que é política. Então, de certa forma, em nenhum momento o humor deixa de ser político.

Hoje também existe uma preocupação com as minorias, de não fazer um humor que seja ofensivo. Como você procura trabalhar isso?

Eu sempre procuro ouvir as queixas vindas das pessoas. No Porta dos Fundos, todos temos em comum a preocupação em não fazer piada velha, seja por questões sociais ou de humor mesmo. A homofobia, por exemplo, é mais velha que o mundo. Sempre discutimos para não sermos homofóbicos, machistas ou racistas. Antes isso tinha graça, hoje é constrangedor. Se você fizer uma piada com negro, vai ser escorraçado, e com razão. O mesmo vale para homofobia ou machismo. Não digo que a piada deva ser criminalizada porque humor não é crime, mas ela precisa ser problematizada. Quando um grupo LGBT nos procura e questiona se não estamos perpetuando um estereótipo, acho uma ótima pergunta. Não acredito que seja uma patrulha, como dizem, são pessoas que antes não se sentiam empoderadas o bastante para reclamar.

Nesta semana a polícia desbaratou um grande esquema de desvio de recursos da Lei Rouanet. Qual a sua opinião sobre essa e as demais leis de incentivo à cultura no Brasil?

Existe uma ideia de que o governo dá o dinheiro na mão do artista, e não é assim. Como diz o nome, são leis de incentivo, muitos recursos privados que são abatidos de impostos. E todas as áreas são incentivadas. A indústria automobilística, a indústria bélica são incentivadas, mas ninguém fala. A cultura, que recebe menos de 1% do orçamento, é quem mais incomoda. Infelizmente, a cultura no Brasil é criminalizada.

O jornalista viajou a convite da Downtown Filmes.
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