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Embora tenha apenas metade do tamanho da área do Paraná e a mesma população do estado, não seria exagero colocar Cuba entre os maiores produtores de grandes artistas do continente latino-americano. Na literatura, gerou Lezama Lima, na música erudita, Leo Brouwer, na música popular, nomes da altura de Ibrahim Ferrer, Compay Segundo e todos os recentemente famosos integrantes do Buena Vista Social Club. Como se explica isso? Alicia Alonso, a grande dama do balé cubano, diz que não se explica. Assim como não se explica a dança que ela e seus companheiros do Ballet Nacional de Cuba conseguem exportar para todo o mundo desde 1948, quando a companhia foi fundada.

Agora, em uma breve passagem por Curitiba, onde a companhia se apresenta amanhã. Por telefone, a bailarina e coreógrafa, hoje quase cega aos 85 anos, falou com exclusividade à Gazeta do Povo. Conversou sobre sua companhia, sobre as semelhanças entre Brasil e Cuba e até sobre o presidente cubano, Fidel Castro. E disse que a fama conquistada como bailarina e coreógrafa traz uma grande responsabilidade mas, ao mesmo tempo, dá a ela um grande amor à vida. Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

Caderno G – O Ballet Nacional de Cuba está passando por uma nova fase? A senhora diria que é um bom momento da companhia?

Alicia Alonso – Eu diria que é um dos nossos melhores momentos. Temos muitos talentos, muita gente boa, com êxito em todo o mundo. Estamos fazendo uma turnê mundial, que começou em nossa pátria, Cuba, passou por Estados Unidos, pela Europa, agora estamos na América do Sul. E então voltaremos para Cuba, depois vamos a Londres, Egito, Espanha, e na volta para Cuba participaremos em outubro e novembro do Festival Internacional de Dança, com bailarinos e companhias de todas as partes do mundo. Durante doze dias, teremos apresentações, aulas, exposições e palestras. Considera-se Cuba se transformará neste período no centro da dança no mundo.

Depois de sua aposentadoria como bailarina, a senhora disse que nunca abandonou a dança. E afirmou que é possível dançar até com o pensamento. Como é isso?

Quando você pensa em um momento bonito de sua vida, como faz? Não é com a sua imaginação, na sua mente? É o que eu faço com a dança, o tempo todo. Além disso, me aposentei como bailarina, mas não como coreógrafa. Tenho trabalhado muito como diretora e como coreógrafa. Inclusive preparando diversas atividades para o Festival de Dança em Havana.

A senhora compara o estilo cubano de dançar ao estilo brasileiro. Por quê?

Os dois países se parecem muito. Os seres humanos (nos dois países) têm o mesmo sentido de alegria, da dança, do ritmo e da amizade. É muito bonito. Somos diferentes (do restante do mundo). Nossas raízes são diferentes, nossa combinação de raças são diferentes, nos desenvolvemos de maneira diferente, temos nossos ritmos, que enriquecemos com o que conhecemos de outros países. Compartilhamos, isso é importante.

Mesmo em um balé clássico, é possível distinguir um bailarino cubano ou brasileiro de um norte-americano ou europeu, por exemplo?

Dançam diferente. Porque sua forma de se expressar é diferente. Eu montei Giselle com o Ballet Nacional de Cuba na Ópera de Paris e foi um sucesso tremendo. Porque eles tinham perdido o estilo romântico da dança.

O que a senhora tem a dizer sobre Fidel Castro? Ele tem sido bom para a arte em Cuba?

Ouça, o que você quer que eu diga? A arte tem toda a proteção. Pintores, músicos, bailarinos. Em Cuba, todo mundo aprende a ler e escrever. Cuba tem educação gratuita, medicina gratuita. O que você acha? Nesse momento, em Havana, temos a maior escola de balé do mundo, com 25 salões de balé. Nas províncias todas, também temos escolas. Temos o Ballet Nacional de Cuba, com nosso teatro. Para a cultura e para Cuba em geral, tem sido muito importante. E eu acredito também que para toda a América Latina.

A senhora é uma lenda da dança em Cuba. Isso traz muita responsabilidade?

É uma alta responsabilidade. Tenho uma alta responsabilidade não só com Cuba mas com todo o mundo. Tenho que dividir, compartilhar tudo o que sei. Mas isso me dá um amor pela vida e um desejo de estar em todos os lugares.

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