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Heitor Dhalia está crescendo. Nina, seu longa-metragem de estreia, é de uma afetação quase insuportável e em momento algum transmite verdade ou qualquer tipo de compaixão pelos personagens, todos detestáveis e unidimensionais. Cheiro do Ralo, seu filme seguinte, é uma adaptação interessante da obra de Lourenço Mutarelli. E, por mais que pareça um tanto preso à obrigação de ter um roteiro "esperto" e cheio de "grandes sacadas", estabelece inegável comunicação com o espectador. Tanto que tornou-se um sucesso inesperado de bilheteria. Em seu terceiro trabalho, À Deriva (veja trailer e fotos), em cartaz nas telas curitibanas, Dhalia consegue dar mais um passo à frente: é uma obra sensível, menos preocupada com maneirismos formais e que conduz o espectador com sucesso pela intimidade de seus protagonistas.
No centro da trama está Filipa (a luminosa estreante Laura Neiva), uma adolescente de 14 anos que, ao mesmo tempo em que descobre o desejo e a possibilidade do amor, testemunha o esfacelamento do casamento dos pais, Matias (o francês Vincent Cassel, de O Ódio) e Clarice (Debora Bloch).
Quando descobre que Matias está vivendo caso amoroso com Angela (Camila Belle), norte-americana que tem casa no mesmo balneário onde ela e a família passam as férias de verão, Filipa atribui ao relacionamento extraconjugal o clima de constante tensão entre os pais. Clarice não para de beber. Matias, escritor, não consegue acabar seu novo livro. Mas há mais do que os olhos da menina conseguem ver.
O interessante de À Deriva é que, mais do que discutir o naufrágio conjugal dos pais de Filipa, o filme opta por investigar o turbilhão de emoções em que a adolescente está mergulhada. Ao mesmo tempo em que defende a mãe, ela também assume o papel de traída ao ver o pai nos braços de outra mulher, mais jovem e, portanto, capaz de se rivalizar com ela. Matias ainda é seu objeto simbólico do desejo.
Dhalia explora com delicadeza o clima de sensualidade natural que marca a relação entre Matias e os filhos, sobretudo Filipa, sem, contudo, insinuar a possibilidade de incesto. O belo trabalho de fotografia de Ricardo Della Rosa, associado à direção, permite ao espectador mergulhar na intimidade da família e na subjetividade conflituosa de Filipa.A expressividade de Laura Neiva, que se sai melhor em silêncio do que falando, a intensidade e o desespero contidos do vigoroso desempenho de Debora Bloch e o carisma de Cassel, cujo português por vezes compromete seu desempenho, ajudam a fazer de À Deriva uma agradável surpresa. Um filme adulto, introspectivo, cheio de climas. Anuncia que Dhalia está mudando. E para melhor.
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