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Dario Fo é um homem polêmico. Ganhou o Nobel de Literatura em 1997. Muito por conta de sua defesa firme de pontos de vista importantes. Politizado, o dramaturgo vê o mundo sempre a partir do ponto de vista de quem está à esquerda dos globalizados. Em 1992, quando a descoberta das Américas completou 500 anos, os europeus encomendaram dele uma peça sobre o fato. "Acho que pediram para o cara errado", sorri Júlio Adrião, ator carioca que estréia hoje no Festival de Teatro de Curitiba a sua montagem de A Descoberta das Américas, resultado do trabalho de Dario Fo.

A peça conta a história da descoberta do continente pelos europeus, sim. Mas vê o episódio como ele foi encarado por quem estava na praia, do lado de cá do Oceano Atlântico. Ao invés de colocar como protagonista e herói um europeu navegador, o autor italiano põe em primeiro plano os indígenas da América do Norte. Quem conta a história deles é um italiano empobrecido, que parte com seus colegas nas expedições ao Novo Mundo. Ao chegar à América do Norte, conhece a vida e o drama dos povos invadidos por seus compatriotas. E passa a defendê-los.

A montagem de Júlio Adrião, que interpreta o monólogo desde setembro do ano passado, surgiu do interesse dele e da diretora Alessandra Vanucci em traduzir o texto, escrito originalmente por Dario Fo em uma língua híbrida, que tentava mostrar o espanto de europeus e americanos em seus primeiros encontros. As primeiras apresentações não foram exatamente um sucesso. "Chegamos a fazer o espetáculo só com uma pessoa na platéia", afirma Adrião.

Tudo mudou quando a poderosa crítica Bárbara Heliodora foi assistir à peça. Saiu maravilhada e seu texto no jornal dizia que a atração era imperdível. Com a fama de ácida que a crítica tem, a notícia causou furor. Logo, toda a classe artística se interessou em ir assistir à peça que havia vencido a fúria destruidora de Bárbara Heliodora. E a montagem começou a lotar teatro. Tanto que agora começam a surgir convites para festivais como o de Curitiba.

A apresentação em Curitiba serve de alguma maneira como uma homenagem dos artistas a Dario Fo que, no próximo dia 24, completa 80 anos. Adrião, que chegou a se comunicar com o autor durante o processo de montagem, diz que o principal mérito do texto é que, apesar de parecer leve e engraçado, também é capaz de mexer com a platéia e provocar reflexões profundas. Coisa de escritor de primeiro time, digno de ter junto a seu nome o sempre cobiçado título de "ganhador do Prêmio Nobel de Literatura".

Serviço: A Descoberta das Américas. Teatro do Paiol (Largo Guido Viaro, n.º 51), (41) 3213-1340. Texto de Dario Fo. Tradução e adaptação de Alessandra Vanucci e Júlio Adrião. Com Júlio Adrião. Dias 17 e 18, às 20h30. R$ 24.

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