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Avô herói | Reprodução Rede Globo
Avô herói| Foto: Reprodução Rede Globo

Filmografia

Direção e roteiro

2005 – A Feiticeira2000 – Bilhete Premiado1999 – Mensagem para Você 1996 – Michael – Anjo e Sedutor1994 – Um Dia de Louco1993 – Sintonia de Amor 1992 – Esta É Minha Vida Roteiro1983 – Silkwood – O Retrato de uma Coragem1986 – A Difícil Arte de Amar 1989 – Cookie 1989 – Harry & Sally – Feitos um para o Outro1990 – Meu Pequeno Paraíso2000 – Linhas Cruzadas

A jornalista, escritora e cineasta Nora Ephron recebeu três indicações ao Oscar na categoria de melhor roteiro original por Silkwood – O Retrato de Uma Coragem (1983), Harry & Sally – Feitos um Para o Outro (1989) e Sintonia de Amor (1993). Mas, também quase faturou os troféus Framboesa de Ouro de pior direção e roteiro por Feiticeira (2005), um dos recentes fracassos hollywoodianos protagonizado por Nicole Kidman.

Diante de um mico como esse em uma carreira admirável – Nora é uma das mais badaladas repórteres americanas e uma das precursoras do jornalismo literário – sinto-me à vontade para declarar que o título de seu último livro, estrondoso sucesso de vendas no último verão norte-americano, é um "horror". Meu Pescoço é um Horror – E Outros Papos de Mulher (Ed. Rocco, 132 págs, 2007) não é auto-ajuda, mas pode ser que, por engano, seja colocado ao lado de títulos duvidosos como Quem Mexeu no Meu Queijo? ou Nosso Iceberg Está Derretendo.

Talvez o sensacionalismo do nome tenha transformado o livro em best-seller americano – afinal, auto-ajuda é o primo rico dos outros gêneros literários. Mas, só isso não justificaria o sucesso da obra de uma autora já reconhecida por sucessos como Crazy Salad (não publicado no Brasil), coletânea dos artigos publicados por ela na revista Esquire, na década de 1970.

A prosa de Nora é uma conversa franca, irreverente e bem-humorada, sem deixar de ser inteligente e perspicaz. Estilo que exercitou ao longo de décadas como escritora de roteiros para cinema e artigos para jornais como o New York Post e revistas como a New York Magazine e a New York Times Magazine.

Seu alvo são as mulheres que, como ela, precisam encarar o envelhecimento – e aprender a conviver com o horror de se olhar no espelho e ver um pescoço a cada ano mais flácido e enrugado. E dá-lhe suéteres de gola rulê, écharpes à la Katherine Hepburn ou golas chinesas para disfarçá-lo! No entanto, qualquer leitor se identifica facilmente com os episódios que Nora retira de sua própria vida ao desfiar, sem pudor ou preconceito, todo o repertório do universo feminino – de temas considerados "fúteis" como culinária, relacionamento, moda e maternidade a assuntos "cabeça" como literatura, política e reflexões sobre a morte.

O tom confessional parece ser característico de sua escrita de modo geral – e nos faz ter vontade de tê-la como amiga. Ela tem consciência da auto-referência. O que explicita em um trecho de um dos melhores capítulos do livro, "A História de Minha Vida em 3.500 Palavras ou Menos", ao reproduzir parte do roteiro de Harry & Sally – Feitos um para o Outro. Na cena, Sally está no avião, a caminho de Nova Iorque, para onde está se mudando, e conversa com Harry sobre suas expectativas em relação à nova fase de sua vida. Exatamente o que a própria autora havia feito na juventude, quando decidiu deixar Los Angeles, onde se sentia deslocada, e voltar para Nova Iorque.

A cidade está bem no topo da lista de suas grandes paixões – que também inclui, entre os "mais mais", strudel de repolho e um apartamento pelo qual foi obcecada até perceber que o sentimento era unilateral – ela pagava cifras astronômicas pelo aluguel, e nem mesmo podia receber comida chinesa à porta!

Em vários trechos, Nora nos faz lembrar das motivações que nos levaram a decidir por um outro rumo na vida. Um exemplo é quando conta como resolveu que seria jornalista. Seu professor de jornalismo da escola secundária ensinava aos alunos como escrever um lide – a primeira frase ou parágrafo do jornal que reúne as respostas às perguntas Quem?, O quê?, Onde?, Quando?, Por que? e Como. Como exercício, ele dita uma série de fatos mais ou menos assim: "Kenneth L. Peters, o diretor da escola de Beverly Hills, anunciou hoje que o corpo docente da escola irá a Sacramento na quinta-feira para assistir a um colóquio sobre novos métodos de ensino". Ao receber os lides escritos pelos alunos a partir destas informações, joga tudo no lixo, e diz: "O lide desta notícia é ‘Não haverá aulas na quinta-feira’".

Quando Nora entra para a faculdade, a máquina na lanchonete do dormitório, chamada a Vaca, fornece leite integral fresquinho, pães doces, bolinhos e pães de minuto (coisa de americano ter comida ao lado da cama). Três meses depois, ela já pesa dez quilos a mais. As risadas da amiga obesa ao se deparar com seu novo formato – ela escreve: "as palavras exatas de Janice foram: ‘Ha ha ha ha ha’" – fazem com que inicie uma dieta no dia seguinte e em pouco tempo volte aos 53 quilos originais. Hoje, aos 65 anos, a escritora acha curioso ter os mesmos dez quilos a mais e ser magra! Essa talvez seja uma das vantagens em meio a uma série de desventuras trazidas pelo envelhecimento – como ela mesma diz, os pescoços femininos ficam horríveis e já não se consegue ler orelhas de livro sem a ajuda de uma lupa.

Nora não tenta convencer o leitor de que é o máximo envelhecer. "Nada em mim está melhor hoje do que estava aos cinqüenta ou quarenta ou trinta, mas decididamente o meu corte de cabelos é o melhor que eu já fiz", ironiza. Ela sugere às leitoras jovens que estejam lendo seu livro: "Vá, neste instante, vista um bíquini e não o dispa até fazer trinta e quatro anos". E diante de tantos amigos que estão morrendo, reflete sobre o que conseguiu descobrir até agora sobre a morte. Para ela e todos nós, qual é a alternativa? A vida continua. "Nesse meio tempo, aqui vamos". E encerra o livro para comprar mais óleo de banho, que mantém sua pele lisa como cetim.

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