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Muro com homenagens a Prince: cantor foi um visionário da internet | SCOTT OLSON/AFP
Muro com homenagens a Prince: cantor foi um visionário da internet| Foto: SCOTT OLSON/AFP

As pessoas tendem a olhar para algumas coisas quando estão considerando que tipo de relação Prince, que morreu nesta quinta-feira (21), tinha com a internet: a declaração que deu 2010 de que “a internet está completamente acabada”, talvez, ou o fato de que é praticamente impossível ouvir sua música no Spotify. Ou seu uso agressivo de notificações e processos judiciais para manter gravações “bootleg” de suas apresentações fora da internet. Todas essas coisas são verdadeiras, e são todas importantes. Mas elas não contam toda a história.

Quando Prince disse que a internet estava acabada, ele posteriormente esclareceu que estava se referindo à rede enquanto uma fonte de renda para músicos como ele, e em 2013 ele disse ao jornal britânico Guardian que o intervalo de três anos tinha provado que ele estava correto. “Diga um músico que tenha ficado rico com vendas digitais? A Apple está indo muito bem, contudo, não é?”

Diga um músico que tenha ficado rico com vendas digitais? A Apple está indo muito bem, contudo, não é?”

Princeartista

Pioneiro

Ele nem sempre se sentiu dessa maneira: tanto quanto notoriamente tornou-se conhecido como um de seus antagonistas, ele também foi notoriamente um dos primeiros a adotar a internet. Prince permitiu que seus fãs comprassem o box com 3 CDs “Crystal Ball” diretamente dele, por meio da internet, em 1997. Em vez de um encarte tradicional, o álbum tinha uma página na web. Mas mesmo essa história ficou complicada: um ano depois, fãs que tinham esperado meses devido a atrasos na entrega de suas cópias compradas durante a pré-venda ficaram inconsolados ao descobrir que o que eles acharam que era um produto exclusivo para venda direta estava, na verdade, sendo vendido em lojas também, antes mesmo de alguns fãs receberem suas cópias pelo correio.

O empreendedor da área de tecnologia Anil Dash, em um perspicaz tributo a Prince no Twitter quinta-feira, observou que, apesar da imperfeição do lançamento de “Crystal Ball”, o fato de que ele o fez, para começo de história, já é por si só significante. “Prince financiou um álbum com crowfunding por meio da internet, com direito a atrasos na entrega a fãs enfurecidos no melhor estilo Kickstarter, HÁ 20 ANOS. Seu artista favorito jamais teria feito isso”, ele tuitou.

“Talvez uma de suas melhores frases (caracteristicamente de efeito) foi: “Se você não é dono de seus mestres, então seus mestres são donos de você.” Controle”, Dash tuitou em sequência.

Previu as redes sociais

A NPR, rede de rádio pública dos Estados Unidos, recentemente publicou mais uma excelente análise da longa e tortuosa relação de Prince com a internet. Nesse artigo, eis como um professor descreveu as maneiras pelas quais o interesse que Prince teve por computadores desde o início se entrelaça com décadas de seu trabalho:

“’Desde o início, Prince sempre esteve interessado em computadores e em como um artista poderia usá-los’, diz Ben Houge, professor da Escola de Música Berklee e fã de Prince. Canções como ‘Something In The Water (Does Not Compute)’ (1982) e ‘Computer Blue’ (1984) oferecem desde cedo exemplos disso na sua própria música; na era da Internet houve faixas como ‘Emale’ e ‘My Computer’ (ambas de 1996). A letra dessa última é até presciente das mídias sociais: ‘Vasculhei meu computador, em busca de um site. Alguém com quem conversar, divertido e esperto.’

Vasculhei meu computador, em busca de um site. Alguém com quem conversar, divertido e esperto.”

Letra da música My ComputerPrince

Mais tarde, ele usou a tecnologia disponível para criar ‘experiências’, não apenas álbuns, que eram mais do que somente música, combinando som, visão e uma sensação de interatividade. O encarte de ‘Crystal Ball’, de 1997, especificamente citados pelo Webby Awards, que premia as melhores iniciativas na internet, foi apresentado como uma página na web, o que era inovador na época. O professor Houge explica que Prince é sensível a tudo que faz parte de uma experiência musical. ‘É claro que é incrivelmente conveniente ter música instantaneamente acessível por meio de um serviço de streaming, mas tanta informação é perdida dessa forma’, ele diz. ‘Não apenas informação textual como créditos, letras, biografias e ensaios, mas também informações visuais como fotografias, fontes, layout e design, tantas coisas que atribuem uma importante dimensão extramusical à visão de um artista.’”

A referência do Webby Awards marca outro episódio interessante a respeito da consideração que a internet tem por Prince. Ele ganhou um prêmio do Webby pelo conjunto da obra em 2006. “A liderança online de Prince tem transformado a indústria do entretenimento e redesenhado a relação entre artista e fã”, os organizadores escreveram a respeito de Prince.

Inspirado por memes

Eventualmente, Prince pareceu se aproximar mais daquilo em que a internet estava se tornando, ainda que sua reputação de fazer valer agressivamente seus direitos autorais tenha permanecido. Ele patrocinou o serviço de streaming de música Tidal. Ele escreveu uma canção inspirada pelo meme “this could be us but you playin”. Quando Prince entrou no Twitter pela primeira vez, em 2013, isso foi algo grande, mas ao mesmo tempo estranho e autocontido. De acordo com a Time, ele postou brevemente um link para um fragmento de uma nova canção sua com a mensagem: “PEGUE ISSO AGORA ANTES QUE MEUS ADVOGADOS PEGUEM.”

Mas seja lá quão complicada a longa história de Prince com a internet possa ser, uma coisa a respeito dela não é: segundos após a confirmação de sua morte, a internet irrompeu em inúmeras demonstrações de luto.

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