Ieda Godoy poderia ser aquela pessoa da qual zombamos sem querer ao dizer: "Enquanto nos divertimos, ela trabalha." Não. A empresária, dona de três estabelecimentos de sucesso da noite curitibana e de incríveis olhos verdes , encara a profissão como uma extensão natural de sua apreciação pela hora mais escura do dia. "A noite é emoção", diz Ieda, nascida em Prudentópolis e curitibana desde os 18 anos.
Sua aventura boêmia começou em 1991, quando assumiu, em sociedade, o bar Poeta Maldito. "Me envolvi muito, acabou virando meu trabalho", diz. O primeiro empreendimento próprio foi o Café Mafalda, point de jantares românticos e de papos de fim de tarde desde 2000. O Wonka, bar mais concorrido da Trajano Reis nossa pequena Augusta existe há nove anos. O "porão" funciona como um pequeno catalisador de novas bandas da cidade, que volta e meia encontram ali um palco à disposição. "Curitiba está muito fértil culturalmente. Não temos tradição em lançar compositores ou músicos como temos em relação a atores e atrizes. Mas não é falta de material. Todo mundo está produzindo", avalia Ieda, mãe de Artur, 14 anos, e de Pedro, 18.
Sua última tacada foi o Dizzy Café Concerto, um restaurante-bar com temática jazzística e cara de cabaret, inaugurado em agosto. A empreitada foi em parceria com o pianista Jeff Sabbag, seu marido. E vem colhendo elogios aos borbotões. "É meu filho mais novo", diz a empresária, para quem o mundo como os discos que escolheu precisa, às vezes, ser mais profundo. "Há uma tendência à superficialidade, em tudo. É por isso que faço coisas para durar."
Os prediletos
Um Chopin reconciliador? "Aí vão meus álbuns. Nunca é fácil escolher":
Essa Mulher (1979) Elis Regina
"Esse disco é de 1979. Nessa época tinha 12 anos e morava em Prudentópolis. Já conhecia o Falso Brilhante, o álbum anterior, e cantava de cor todas as músicas. Mas quando ouvi Essa Mulher não parava de chorar. A poesia sempre guiou a minha vida e a Elis sempre foi minha inspiração, embora eu não seja cantora. Mais que admirar a Elis por seu talento e emoção, sempre prestei muita atenção em suas escolhas, com as quais aprendi muito! Quando ela morreu, em 1982, tinha 15 anos e fiquei de luto por uma semana."
Here Comes the Sun (1971) Nina Simone
"Esse álbum me marcou porque, além de tocarmos muito Nina Simone no Dolores Nervosa, meu segundo bar (1992), que ficava na Vicente Machado, Here Comes the Sun foi a música que ouvi quando cheguei da maternidade com Pedro, meu primeiro filho, em 1996. Então ouvíamos esse disco no banho... na troca de fraldas... ouvíamos para fazê-lo dormir. Na verdade passamos a ouvi-lo o tempo todo. No álbum, há Just Like a Woman, que eu adoro... e Mr. Bojangles, música que eu amo."
The Chopin Collection (1991) Arthur Rubinstein
"Não, não sou entendedora de música erudita, mas sim, gosto muito. E esse álbum tem uma importância fundamental na minha vida porque foi um presente de Natal que dei para o meu marido, Jeff Sabbag esse sim um profundo conhecedor da área num momento em que estávamos brigados. Mais tarde, chega uma mensagem no meu celular: Cada vez que ouço Chopin, eu te perdoo. E desde então ouço o piano mais lindo do mundo com as explicações e observações do pianista mais lindo do mundo."
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