No mundo
Interatividade é tendência internacional
Artistas internacionais também investem cada vez mais na interatividade com internautas. A banda inglesa Kaiser Chiefs é um dos exemplos mais recentes. No site da trupe, os internautas podem montar um álbum personalizado, com dez das 20 músicas do novo CD, The Future Is Medieval, que chegou às lojas no dia 3 de junho. Essas versões alternativas são comercializadas na internet, rendendo até uma parcela das vendas aos seus idealizadores.
Antes do Kaiser Chiefs, a cantora e compositora islandesa Björk também recorreu à interatividade. Em 2002, ela promoveu uma votação no seu site oficial, para que os internautas escolhessem as faixas que iriam compor a sua primeira coletânea Greatest Hits. A seleção final trouxe o que havia de melhor nos quatros álbuns de estúdio lançados até então. Entre as músicas, estavam "All Is Full Of Love", "Human Behavior" e "Pagan Poetry".
Recentemente, a norte-americana Lady Gaga também anunciou no Twitter que quer contar com a ajuda dos fãs para escolher a quarta música de trabalho de Born This Way (2011). Nenhum detalhe adicional foi divulgado, mas vários fãs já se manifestaram pela rede social. Até então, ela lançou videoclipes para "Born This Way" e "Judas". O próximo será para "The Edge of Glory". (TR)
Serviço
Catarse: www.catarse.me
A Banda Mais Bonita da Cidade: www.myspace.com/abandamaisbonitadacidade
Nuvens: www.nuvens.net
Quiçá, Se Fosse...: www.quicasefosse.blogspot.com
SPH Rock NRoll: www.reverbnation.com/sphrocknroll
Constantina: www.constantina.art.br
Kaiser Chiefs: www.kaiserchiefs.com
Björk: www.bjork.com
Lady Gaga: www.ladygaga.com
Ao contrário do que se imaginava, A Banda Mais Bonita da Cidade não assinou contrato com qualquer gravadora, após o boom de acessos do videoclipe "Oração" na internet em maio. Apesar de terem recebido propostas para aderirem a um selo fonográfico, eles optaram por lançar o álbum de estreia de forma independente, mas com um aspecto bastante peculiar: os internautas que ajudaram a trupe a se tornar conhecida no Brasil é que vão bancar o projeto.
Essa modalidade é conhecida como projeto colaborativo e tem ganhado cada vez mais adeptos não só no ramo musical, mas também nas artes plásticas, no cinema e no teatro.
No caso da banda de Curitiba, a proposta está hospedada no site Catarse, no qual os internautas, que figuram como uma espécie de mecenas, não só colaboram com a quantia de dinheiro que puderem ou quiserem, mas, também, escolhem as músicas que querem ouvir no álbum.
No total, a trupe pré-selecionou 12 músicas para o CD. Entre as quais estão as três que tiveram vídeos gravados em Rio Negro, município do sul do Paraná "Oração", "Boa Pessoa" e "Canção pra Não Voltar". Somente aquelas que atingirem arrecadação de R$ 4 mil entram no primeiro álbum da banda. A contribuição em dinheiro dos internautas poderá ser feita até 1.º de julho. Por enquanto, a banda não trabalha com a possibilidade de estender esse prazo.
"Como conquistamos espaço por meio da internet, resolvemos fazer o disco com a ajuda desse suporte também, pois, dessa forma, estaremos sendo fiéis à nossa postura independente, tratando o projeto diretamente com aqueles que vão ouvi-lo", comentou o baterista Luís Bourscheidt. "É uma postura de independência em relação às grandes gravadoras, mas de dependência para com os fãs."
Andamento
Para que as 12 músicas entrem para o primeiro CD dA Banda Mais Bonita da Cidade, o projeto precisa arrecadar R$ 48 mil. Se alguma das faixas pré-selecionadas não alcançar a arrecadação mínima de R$ 4 mil, o dinheiro dedicado a ela será devolvido aos seus "mecenas". Caso contrário, os internautas serão bonificados com presentes, que variam desde o álbum de estreia propriamente dito até desenhos feitos pela vocalista do grupo, Uyara Torrente.
Depois de pouco mais de três semanas do lançamento do projeto colaborativo, o grupo arrecadou mais de R$ 21 mil a única faixa que atingiu R$ 4 mil foi "Oração". "O valor para cada música foi pensado, levando em conta a gravação e também a prensagem do CD", explicou Bourscheidt. "Não sabemos ainda quantas faixas entrarão no álbum, porque depende da quantidade que conseguirmos arrecadar, mas gostaríamos de poder gravar todas as 12."
Não há, ainda, uma previsão de quando o álbum será lançado, mas a esperança da banda é de que seja até o fim do segundo semestre. A banda já discute os detalhes do trabalho, que vão desde os locais de gravação das faixas que acreditam que serão escolhidas pelos internautas, até a parte estética. "Queremos fazer as gravações em lugares bem diferentes, como dentro de algumas igrejas", adiantou o baterista.
Entre os brasileiros que também estão em busca de doações para projetos musicais no Catarse estão os curitibanos do Nuvens. Eles esperam arrecadar R$ 4,5 mil para prensar o segundo álbum, intitulado Fome de Vida. O site também traz projetos dos gaúchos do Quiçá, Se Fosse..., dos amazonenses do SPH Rock NRoll e dos mineiros do Constantina.
Independência não garante sobrevivência
A decisão dA Banda Mais Bonita da Cidade de se manter no cenário independente pode parecer redentora para o público alternativo, mas não garante que seus integrantes conseguirão viver exclusivamente de música. Essa é a opinião da presidente da Associação Brasileira de Música Independente (ABMI), Fabiana Pegorer.
Como um único sucesso na internet não fará com que a banda se firme no mercado fonográfico, Fabiana disse que o próximo passo é encarar o grupo como uma empresa, que precisa de profissionais qualificados para ajudar a pensar os novos hits, trabalhar na gravação das músicas, realizar a distribuição dos álbuns, entre outros serviços.
Atualmente, a banda já conta com uma produtora, um produtor de áudio e uma assessora de imprensa. Eles também resolvem todas as pendências que surgem, figurando como uma espécie de "faz-tudo". Além disso, há amigos fotógrafos, cinegrafistas e dos ramos de figurino e maquiagem que ajudam os integrantes nos shows. Muitas vezes, só na camaradagem.
Na avaliação da presidente da ABMI, se a banda correr atrás do sucesso, fazendo os investimentos necessários, poderão ter uma carreira ascendente, sem abrir mão do espírito independente. Há alguns anos, ser bem sucedido estava atrelado a um contrato com gravadoras multinacionais, que dominavam o mercado e os meios de gravação e projeção.
"A internet, o barateamento dos processos de produção e o aparecimento de gravadoras independentes ajudaram a mudar esse cenário", comentou. "Hoje, o artista pode só se dedicar à música sem interferências das grandes gravadoras, repassando outros serviços para quem entende do assunto."
Essa nova realidade pode parecer ameaçadora para as grandes gravadoras, mas não é na realidade, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), Paulo Rosa. "São tantas as bandas e artistas querendo se lançar no mercado musical, que nem se o número de gravadoras triplicasse, seria possível atender a esta enorme demanda", avaliou.