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Thiago Lacerda e Marjorie Estiano vivem o casal romântico central de O Tempo e o Vento | Divulgação
Thiago Lacerda e Marjorie Estiano vivem o casal romântico central de O Tempo e o Vento| Foto: Divulgação
  • Superprodução foi rodada em várias cidades gaúchas, como Pelotas, Bagé e Aceguá
  • Diretor e elenco estiveram em Curitiba na semana passada para lançar o filme

Para entender que pode ser um erro comparar a saga literária O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo, ao longa-metragem homônimo, que estreia sexta-feira nos cinemas brasileiros, é preciso fazer um exercício de matemática básica. Dividida em O Continente (1949).

VÍDEO: Veja o trailer oficial do filme

O Retrato (1951) e O Arquipélago (1961), a edição mais recente do romance, lançada pela Companhia das Letras, tem 2.832 páginas, distribuídas em sete volumes, que percorrem 180 anos de história.

Assim, não faz muito sentido esperar que o longa-metragem do diretor Jayme Monjardim, em apenas duas horas, seja uma adaptação fiel, e literal, da obra de Verissimo. Após 29 versões, o roteiro final de O Tempo e o Vento é inspirado pela epopeia gaúcha, mas está longe de ser uma transposição cena a cena dos livros. É, segundo o cineasta, uma adaptação livre, cinematográfica, que toma liberdades sem violentar a obra original. "Rodei o filme com os livros do Erico na mão, como referência e inspiração."

O roteiro, escrito a seis mãos por Letícia Wierz­­­chowski, Marcelo Ruas e Tabajara Ruas, levou quase cinco anos para ficar pronto, sempre sob o olhar atento de Monjardim. Ele contou, em entrevista coletiva realizada na semana passada em Curitiba, que alimentava o desejo de filmar o romance desde a juventude, quando morava em São Paulo, em uma produtora de cinema, cercado de latas de negativos, sonhando com os filmes que um dia iria fazer.

Antes de estrear no cinema, o que só ocorreu em 2004, com Olga, adaptação da biografia da militante comunista Olga Benário, escrita pelo jornalista Fernando Moraes, Monjardim, hoje aos 57 anos, se consolidou como um importante renovador da tevê brasileira, dirigindo novelas de enorme sucesso, como Pantanal (1990), Terra Nostra (1999/2000) e O Clone (2001/2002). Sem falar da minissérie A Casa das Sete Mulheres (2003), que marcou a aproximação de Monjardim tanto de temáticas relacionadas ao Rio Grande do Sul quanto da autora da história, a escritora gaúcha Letícia Wierzchowski, que viria a ter papel fundamental no roteiro de O Tempo e o Vento.

Veio de Letícia a ideia de construir a narrativa do longa-metragem a partir do encontro entre a personagem Bibiana, já idosa e interpretada por Fernanda Montenegro, com o fantasma de seu marido, o capitão Rodrigo Cambará (Thiago Lacerda), morto há décadas, ainda na juventude.

A personagem, em meio a tiroteios da Revolução Federalista (1893-1985), está sitiada no sobrado da família Terra Cambará, na cidade de Santa Fé. Eles são partidários dos republicanos presidencialistas, os chamados pica-paus, que resistem aos ataques dos separatistas parlamentaristas, conhecidos como maragatos, que iriam perder o conflito. É nesse clima de confronto e ameaça que surge, como um espectro do passado, a figura imponente de Rodrigo, que faz com que Bibiana mergulhe em um oceano de reminiscências.

Política

"Não sou um diretor político, nunca fui. Gosto de histórias de amor épicas, focadas nos conflitos entre os personagens, e com forte ênfase nas personagens femininas", disse Monjardim. Por isso, explica o diretor, ele sempre teve a intenção de construir a narrativa de O Tempo e o Vento a partir da perspectiva de Bibibana, vivida pela curitibana Marjorie Estiano na juventude e pela gaúcha Janaína Kremer na meia-idade. "Acho que Bibiana estava um pouco à sombra do capitão Rodrigo e da Ana Terra, míticos dentro da obra de Verissimo. O filme a resgata e a eleva."

Analisando os números, não é difícil explicar por que O Tempo e o Vento é uma superprodução de proporções épicas. Além de ter consumido perto de sete anos da vida de seu diretor, o filme, com orçamento estimado de R$ 15 milhões, tem outras cifras que impressionam: um elenco de 125 atores e 2 mil figurantes. A produção foi rodada em várias cidades do Rio Grande do Sul, como Pelotas, Bagé e Aceguá, onde entrará em cartaz em mais 40 salas de exibição, de um total aproximado de 200 telas em todo o país.

O irônico é pensar que Monjardim e a produtora Rita Buzzar quiseram que tudo isso estivesse à serviço de uma história intimista e assumidamente romântica, na qual os sentimentos, sobretudo o amor romântico, são protagonistas. Rita é dona da Nexus Cinema, empresa produtora do filme, coproduzido pela Globo Filmes, Panda Filmes, Cereja S.A., RioFilme e a paranaense Cabanha São Rafael, criadora de cavalos sediada no município de Balsa Nova.

Ana Terra

Na viagem ao passado de Bibiana, é claro que ganha enorme destaque a história da avó da personagem, a lendária Ana Terra, cuja narrativa, em formato de livro independente, fez grande sucesso editorial, assim como a de Rodrigo Cambará.

Tanto um livro quan­­­­to o outro renderam lon­­­­­­gas-metragens realizados em 1971: Ana Terra, de Durval Garcia, com Rossana Ghessa; e Um Certo Capitão Rodrigo, de Anselmo Duarte, estrelado por Francisco Di Franco.

A versão mais lembrada de O Tempo e o Vento, que já havia sido transformada em telenovela, em 1967, pela TV Excelsior, é a da minissérie produzida pela Rede Globo e dirigida por Paulo José em 1985. Nessa adaptação, Tarcísio Meira interpreta Rodrigo e Ana Terra é vivida por Gloria Pires – mãe da dona atual da personagem na adaptação de Monjardim: Cléo Pires.

"Eu dirigi Cléo em seu primeiro trabalho na tevê, a novela América [de Glória Perez] e sempre achei que ela tinha uma beleza muito brasileira, seus traços, a cor da pele, que têm muito a ver com minha visão de Ana Terra. Mas foram necessários muitos meses de insistência para que ela aceitasse o convite. Ela queria evitar as comparações com a mãe", conta Monjardim.

Marjorie Estiano, que também esteve em sua cidade natal para divulgar O Tempo e o Vento, conta que não se sentiu intimidada por viver no filme o mesmo papel que Fernanda Montenegro. "É o mesmo personagem, mas em três tempos, vividos por três atrizes. Conversamos antes, mas nunca houve pressão para que fôssemos a mesma Bibiana."

CADERNO G | 2:39

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