Nunca houve e talvez jamais volte a existir uma mulher como Marilyn Monroe. Ao mesmo tempo vulnerável e desafiadora em sua sensualidade à flor da pele, a atriz norte-americana encarna um conceito de glamour muito ligado à era dourada do cinema. Tempos nos quais astros e estrelas da tela grande povoavam o imaginário do público como semi-deuses. Absolutos e intocáveis. Eternos, portanto. Morta há 45 anos, Marilyn está mais viva do que nunca. Prova disso são seus filmes, relançados em coleções de DVDs ao redor do mundo, livros e eventos comemorativos a sua memória. Um deles está atualmente em cartaz no Rio de Janeiro.
Até 25 de novembro, o Museu de Arte Moderna (MAM) abriga a exposição Marilyn Monroe O Mito, que traz ao Brasil as derradeiras 62 fotos da atriz. O fotógrafo norte-americano Bert Stern fez o último ensaio da estrela um mês e meio antes de sua morte, aos 36 anos, em agosto de 1962. Para quem não pode ir à capital fluminense, um consolo: o catálogo da mostra, com textos do próprio Stern, está sendo lançado pela Editora Sextante em capa dura e brochura. É um tesouro para fãs da estrela e para quem é amante do cinema.
Bert Stern atuava como fotógrafo em Nova Iorque para a revista Look e agências de publicidade. Sonhava com a possibilidade de fotografar Marilyn nua. Ao voltar de Roma, onde registrou outro mito de seu tempo, Elizabeth Taylor, no papel de Cleópatra, Stern tinha três perguntas prontas para seu agente: Marilyn Monroe aceitaria posar para ele? A Vogue se interessaria pelas fotos? A revista já havia publicado algum ensaio com a atriz?
As respostas foram: sim, sim e não. Uma combinação absolutamente perfeita. Forjada pelos deuses.
Stern manteve guardados os negativos das fotografias de Marilyn até o início dos anos 1980, quando publicou livros fora dos Estados Unidos. Ano passado, algumas fotos dessa série foram expostas no Museu Maillol, em Paris. Foi então que Geraldo Jordão Pereira, presidente da Editora Sextante, ficou impressionado com a beleza e o impacto da mostra e decidiu trazê-la para o Brasil.
O primeiro encontro entre Marilyn e Stern aconteceu na suíte 261 do Hotel Bel Air, em Los Angeles. Para essa première, ela chegou sozinha e sem maquiagem, com cinco horas de atraso. Ao encontrar lenços transparentes espalhados pelo quarto, percebeu a intenção do fotógrafo. "Tenho uma cicatriz recente de cirurgia. Vai aparecer?", ela perguntou, referindo-se a uma recente operação na vesícula. "Depende da luz. Mas pode ser retocada", disse Stern. Ela acabou aceitando posar com os seios desnudos. A Vogue imediatamente aprovou a série e pediu mais fotos para uma reportagem de moda.
Stern se contentava com a publicação de uma foto de página inteira, como tivera com Liz Taylor. Um ensaio de oito páginas com fotos a cores e em preto-e-branco estava além da sua pretensão. Ele consultou Marilyn e voltou a Los Angeles para os três dias que marcaram a história da fotografia. Em 1962, Bert Stern era conhecido pela qualidade de sua obra e pelas estrelas que fotografava. Marilyn só havia posado nua uma única vez, envolta num lençol de cetim vermelho, em uma foto de calendário publicada no primeiro número da revista Playboy, nos anos 1950. É uma das imagens mais republicadas do século 20. Mas, para surpresa de Stern, ela se deixou-fotografar sem roupa por ele.
Durante três dias e três noites, o fotógrafo realizou um ensaio com as mais inebriantes imagens de Marilyn Monroe. Era primavera de 1962 e a suíte 261 do Bel Air trazia na luz filtrada pelas janelas o clima de intimidade e interação, completamente diferente dos estúdios de Hollywood.
Stern havia montado o set no salão da suíte e deixado o quarto com duas camas e banheiro para servir de camarim. Sobre uma das camas ficaram dezenas de lenços, bijuterias e a mala de roupas da revista Vogue. A equipe ficou reunida no salão, enquanto Stern e Marilyn fotografavam sozinhos no quarto, entre goles de champanhe. Ela nua e ele procurando transferir toda sua emoção para o equipamento.
"Houve um momento em que pensei em ficar na cama, em tirar minha roupa. Mas levantei", Stern conta no texto do catálogo. "Marilyn estava exausta, me chamou, e eu hesitei." Ele fez a última foto da atriz adormecida no camarim improvisado, levantou-se da cama e encontrou a equipe esperando. Uma das fotos selecionadas para a exposição revela esse clima, com sapatos de salto alto brancos displicentemente jogados ao chão, garrafa de vinho Château Lafite-Rothschild entre copos e caixas de filmes vazias.
Os três dias de ensaio de Bert Stern para a Vogue começaram em 23 de junho. Marilyn morreu em 5 de agosto de 1962. A revista circulou no dia seguinte.
Depois do Rio de Janeiro, a mostra Marilyn Monroe O mito seguirá para São Paulo. A exposição acontecerá na Galeria Estação São Paulo, de 25 de janeiro a 25 de março de 2008, com curadoria de Diógenes Moura, curador de fotografia da Pinacoteca de São Paulo.
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Serviço: Marilyn Monroe O Mito, de Bert Stern. Editora Sextante, 128 páginas;R$ 49,90 (brochura) e R$ 64,90 (capa dura).
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