Luiz Francisco Utrabo e Mitie Taketani: afinidades culturais ajudaram a aproximá-los em 1986| Foto: Fotos: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Personagens - Um reflexo da alma ao som de jazz

Marcos Akira Nagase Gomes (foto abaixo) frequenta a Itiban desde 1994. Ele gosta de HQs e de jogos que estimulam a imaginação e a criatividade, como card games e RPG. Akira, como ele é conhecido, envolveu-se tanto com esse universo que trabalhou na Itiban por duas temporadas, de 1997 a 1999, e de 2004 a 2008.

Hoje, aos 30 anos, é bacharel em Direito e estuda para passar em um concurso público. Mas nada o impede de estar na Itiban. Na tarde da última quarta-feira (28), Akira circulava pelas dependências da loja. Ele conta que os seus horizontes culturais se expadiram por ali.

"O nível cultural dos frequentadores (da Itiban) é elevado. Muita gente vem aqui e acaba trocando ideias. Eu mesmo passei a conhecer jazz e outros sons refinados a partir de conversas com fãs de quadrinhos", diz.

Akira lembra que já presenciou, dentro da Itiban, conversas em que alguns estudantes pediam orientação e dicas para professores universitários, a respeito de como formular um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre quadrinhos.

Daniel Spindola, 21 anos, trabalha há dois na Itiban, mas frequenta o espaço desde que tinha 10. Ele diz se divertir durante o expediente, porque, afinal, gosta demais do ambiente. Spindola conta que tantos os mangás (arte desenhada de origem japonesa) como os quadrinhos nacionais são os produtos mais procurados. Ele analisa que os HQs são um espelho. "As pessoas buscam nesse universo aparentemente de fantasia respostas ou mesmo confirmação para aquilo que elas pensam e sentem", diz.

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Foi uma paixão que tornou real a criação e a continuidade da Itiban Comic Shop, conhecida por ser uma meca para quem gosta de quadrinhos. A loja curitibana, que este ano atinge a maioridade – completa 21 anos –, é uma referência nacional. E sua origem está na década de 1980, quando Luiz Francisco Utrabo, 51 anos, conheceu Mitie Taketani, 44.

Utrabo era guitarrista da banda Máquina Zero e, nos anos 80, estar em São Paulo era uma necessidade para quem fazia rock. A Máquina Zero dividiu o palco com RPM, Legião Urbana, Barão Vermelho, mas o conjunto curitibano não vingou. Se tivesse acontecido, do ponto de vista comercial, talvez a Itiban nem existisse. Mas, excetuando esse exercício de hipóteses, foi em São Paulo que, em 1986, Utrabo conheceu a sua mulher e parceira nesta vida.

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Eles se casaram em 1988 e, no ano seguinte, abriram a Itiban, inicialmente na Rua Visconde do Rio Branco, nas imediações da casa do falecido jornalista Aramis Milarch, um amigo de quem os dois dizem sentir muita falta.

Utrabo e Mitie se apaixonaram pelos gostos em comum, e isso diz respeito à música, cinema, cultura de maneira geral, e quadrinhos de modo específico.

Ainda na década de 80, Utrabo correu o mundo. Esteve em países da América do Sul, mas foi na Espanha que percebeu que havia quiosques que comercializavam o melhor dos quadrinhos e ainda levavam os autores para bate-papos com o público. A temporada espanhola mostrou, para Utrabo, uma possibilidade que poderia vir a ser reproduzida no Brasil.

Após cinco anos no endereço inicial, a loja foi transferida para a Avenida Marechal Floriano Peixoto e, há uma década, para a Silva Jardim, 845, quase em frente à Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Ali, mais que comercialização de HQs, acontecem alguns dos encontros mais concorridos no que diz respeito ao universo de quadrinhos.

No dia 14 de julho, oito dezenas de curitibanos lotaram as dependências da Itiban para ver, ouvir e conversar com Daniel Galera e Rafael Coutinho, autores de Cachalote, um marco editorial (o escritor Daniel Pellizzari e o quadrinista Rafael Grampá também estiveram presentes). O livro assinala uma parceria inédita, entre o quadrinista Coutinho e o escritor Galera, e o resultado tem sido aplaudido pela crítica e festejado pelo público.

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Na sexta-feira, dia 23 de julho, Lourenço Mutarelli, de férias em Curitiba, fez questão de abrir espaço na agenda para participar de um encontro na Itiban com dezenas de curitibanos que, como ele, se irmanam pelo fato de não verem sentido na vida sem HQ.

Utrabo e Mitie dizem que são esses encontros que os movem e abrem sorrisos em seus rostos. O casal comenta que poderia, por exemplo, investir dinheiro na abertura de uma loja dentro de um shopping center, mas a opção deles é viabilizar, com alguma regularidade, o encontro entre autores e o público.

Mitie e Utrabo caminham pela loja e apontam para alguns títulos, em uma prateleira: Esquimó, de Fabrício Corsaletti, Dedo Negro com Unha, de Daniel Pellizzari. Eles também comercializam obras de ficção, apenas as que consideram com qualidade (como as de Corsaletti, Pellizzari, Mutarelli e de poucos selecionados), além de jogos de estratégia, bonecos e acessórios (ligados ao universo das HQs) e até a revista Gráfica, do Miran.

Nessa duas décadas, viram aficionados crescerem e continuarem a frequentar a Itiban. Eles mesmos acompanharam o crescimento de duas filhas, Yasmin, 19, e Tami, 15.

Mitie e Utrabo se cumprimentam com afeto.

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Continuam apaixonados. Um pelo outro e ambos pelos quadrinhos.