O Diabo a Quatro é um balaio de gatos, com seus inúmeros personagens e situações. Mas Copacabana, bairro carioca onde o filme é ambientado, também é. Ali, famílias de classe média convivem, a seu modo, com prostitutas, cafetões, meninos de rua, empregadas domésticas, porteiros, travestis, turistas, traficantes. Uma verdadeira fauna humana, obrigada a dividir um dos espaços mais populosos do país (cerca de 3,4 habitantes por metro quadrado).

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Em cartaz a partir de hoje em Curitiba, o longa de estréia da diretora Alice de Andrade – filha do cineasta Joaquim Pedro de Andrade (1932 – 1988), de O Padre e a Moça (1965) e Macunaíma (1969) – tem como mérito justamente radiografar com precisão essa Babel brasileira. Conta a história de Rita de Cássia (a novata Maria Flor, escalada para a próxima novela global das oito, Belíssima), menina do interior que chega ao Rio de Janeiro para trabalhar como babá e, assim, ajudar a família distante.

Empregada em um apartamento de Copacabana, a jovem conhece três figuras que mudarão sua vida: o surfista-playboy Paulo Roberto (Marcelo Faria), o cafetão Tim Mais (Márcio Libar, em convincente interpretação) e o menino de rua Waldick (Netinho Alves).

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Pelo primeiro, ela se apaixona. Para o segundo, passa a trabalhar como prostituta. E, como se não bastasse, acaba virando uma espécie de mãe postiça do terceiro.

O roteiro – escrito por Alice e outros quatro colaboradores – traz ainda uma galeria de estereótipos da sociedade carioca e brasileira. Marília Gabriela, vive a mãe de Paulo, uma madame envolvida sexualmente com entregadores de pizza e outros quebra-galhos. Ney Latorraca, seu marido, é um político para lá de suspeito. Evandro Mesquita, também um dos roteiristas, aparece em papel duplo: interpreta um apresentador de tevê canastrão e um caminhoneiro gay. E por aí vai, com destaque para o promissor Jonathan Haagensen (o Cabeleira, de Cidade de Deus), aqui na pele de um traficante pé-de-chinelo. Haagensen venceu o troféu de melhor ator coadjuvante no Festival de Brasília, enquanto o filme ficou com o prêmio do júri.

Envolvente em sua primeira hora, O Diabo a Quatro se perde por conta da ansiedade da diretora em colocar uma enxurrada de elementos na tela. Há humor, violência, crítica social, romance e até uma pitada de pornochanchada. Mas a salada nem sempre é bem digerida – como na seqüência final, em clima de road movie. Entre tantos altos e baixos, fica, ao menos, a expectativa quanto aos próximos trabalhos de Alice. Potencial ela tem. GG1/2