Exposições
Desde 1997, trabalhos de Olga já estiveram em 13 exposições nacionais. Veja as principais
1997 9ª Exposição Nacional e 5ª Bienal de Pintura em Porcelana
1998 15ª Exposição Nacional de Pintura em Porcelana
2002 18ª Exposição Nacional de Artes menção honrosa
2003 7ª Salão de Artes Plásticas Feirense (RJ) homenagem especial
2003 19ª Exposição Nacional de Artes medalha de ouro
2007 Mujeres que Pintan, Talleres Del Mercosur Buenos Aires
Convites
Do Egito ao Vaticano, parte do mundo quis ver a obra de Olga. Faltou dinheiro.
2000 Salão Internacional de la Peinture sur Porcelaine Cairo, Egito
2002 Exposição de Artes na Galeria Arthur M. Sackler - Washington, Estados Unidos
2003 Galeria la Pigna Cidade do Vaticano
2003 Exposição L Images Paris, França
2003 Exposição LImages Lisboa, Portugal
2004 Galeria la Pigna Cidade do Vaticano
Liberdade, vento na cara e pescaria
Vento na cara, sensação de liberdade. Estrada, cheiro de gasolina. Olga Siqueira tem na moto outra de suas paixões.
"Através de pincéis e tintas, cores e telas, concederam-me o trabalho de que se me honorifica a existência". A frase está em um quadro discreto, pendurado na parede que dá acesso ao ateliê de Olga Christina Alves Siqueira. A sentença sintetiza a vida edificante dessa curitibana de 51 anos, e é o primeiro trecho da Oração do Pintor. A carreira da mãe de Vanessa, 25 anos, a filha recém-formada, e Jefferson, 27, que está pulando de alegria por ter conseguido emprego em uma grande empresa, poderia ser resumida como "aquela que tinha tudo para ser e não foi". Isso para os pessimistas; ou para os desavisados que não sabem que é ela a criadora do painel de 24 metros quadrados que resplandece na Igreja Nossa Senhora do Carmo, que há medalhas e troféus espalhados pela sua casa, e uma pilha de convites para exposições internacionais, do Egito ao Vaticano. Estes nunca foram respondidos porque Olga não tem dinheiro para bancar viagens internacionais. E daí? A mulher que é apaixonada pelo contraste de um Rembrandt, viciada no vento no rosto que surge quando pilota motos, e que adora uma boa briga com um peixe-galo em alto mar, tem na fé todas as suas respostas.
"Existe essa coisa de Deus dar um dom para cada pessoa, então a gente tem que saber usar", diz a curitibana em seu ateliê, igualmente abarrotado por quadros premiados e telas pela metade. "Os melhores trabalhos que fiz foram os que eu comecei sem ter certeza onde ia chegar."
Pintar e bordar sempre foi com ela. Quando era meninota de 15 anos, causava estranheza nos colegas ao desenhar o rosto de Cristo durante as aulas e esculpir a face do Redentor em lápis de madeira.
Seu talento quase foi tolhido o que acontece muitas vezes quando o discípulo progride muito rápido e chega perto demais de seu mestre. Em sua primeira aula de pintura, queria estrear com um gato. A professora disse não, porque gato era difícil. Pediu à aluna que pintasse árvores secas. "Fui para casa e pintei o gato. Mostrei e ela disse que não tinha sido eu", lembra, balançando o pincel nas mãos gorduchas. "Nunca mais voltei para a aula."
Houve um hiato, embora nunca tenha abandonado a arte. Há cerca de 30 anos, começou a pintar porcelanas e a fazer bonecas. Usava o talento para sobreviver. Pintou um jogo de jantar de 42 peças em um dia demanda urgente. Tempos depois, administrou uma pequena firma de dez empregados junto com o marido, Luiz. Para o interior do estado, despachava caixas de fogão cheias de sua obra, o ganha-pão da família.
Em 1992 conheceu a pintora Maria Ione Siemsen (1930-2009). Com ela, aprimorou sua técnica, abriu loja em um centro comercial e começou a se interessar por telas. O caminho estava aberto para as mais de mil que iria pintar.
"Nunca paro de aprender. Aprendo observando uma sombra aqui, vendo alguma coisa no horizonte, e aprendo muito com as alunas." Olga dá aulas de pintura às segundas, quintas e sextas. São 12 discípulas, que garantem o sustento da família hoje, e a continuidade do aprendizado da pintora. "Elas dizem que querem pintar algo, e às vezes digo nunca fiz, mas vamos tentar. Às coisas mais difíceis é que você tem que se dedicar mais", conta a artista, que se vira como pode com a pintura e sabe que enriquecer, a essa altura do campeonato, é sinônimo de milagre.
Um borrão
Em 2008, Olga foi diagnosticada com câncer. Da doença que mostra sua crueldade por meio de uma bolsa de colostomia que a pintora carrega o tempo todo consigo tirou lições. Com elas, mudou sua forma de viver. "A vida segue. A minha fé é muito forte. Ninguém sabe o dia de amanhã, mas se Deus te dá aquele dia para viver, viva ele bem", ensina. Olga fez três cirurgias, todas pelo SUS. Fica borocoxô dias depois das sessões quinzenais de quimioterapia, mas consegue se adaptar a tudo e fazer do que seria uma viagem ao inferno uma voltinha no paraíso. "Não tem plano de saúde que pague as amizades que fiz no hospital. Passei meu aniversário lá ano passado, a festa foi das oito da manhã à meia-noite", lembra, sorrindo.
O seu médico, Dr. Ricardo Rydygier, diz que a "guerreira" Olga tem uma postura otimista que funciona como "um bom remédio". "Ninguém sabe quanto tempo a gente vive. Eu posso dizer que ela está vivendo muito bem", conta.
A doença avança pelo fígado e pulmão. O cabelo rareia o marido Luiz o junta pela casa, mas não quer que a esposa raspe porque o "choque é muito grande". Olga tira tudo de letra. Se preocupar com picuinhas não vale mais. O que conta é aproveitar o que há de melhor em cada dia. "Se tenho vontade de pintar uma tela diferente, eu paro tudo e vou pintar. A prioridade hoje é fazer o que eu gosto de verdade". A arte é, enfim, seu verdadeiro remédio.