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Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita). | Divulgação
Faichecleres: banda agora conta com um novo baixista, Ricardo Junior (primeiro à direita).| Foto: Divulgação

Kassel, Alemanha – Uma forma de arte crítica e atenta para questões coletivas é a escolha da organização da décima segunda edição da Documenta, exibição de arte contemporânea aberta a visitação ontem em Kassel, na Alemanha. Com forte presença de artistas africanos, latino-americanos e asiáticos, a mostra fez uma busca pela periferia do mundo para oferecer ao público um passeio que vale pelo debate que é capaz de provocar.

A opção pela crítica não está explícita nos temas que guiaram a montagem da exibição. Ela apenas aparece em questionamentos sobre como podemos lidar com a globalização ou se a humanidade é capaz de se reconhecer com um horizonte comum. Mas a escolha de artistas em grande parte fora dos eixos mais badalados abriu espaço para montagens bastante objetivas sobre temas concretos, como a pobreza em países africanos abundantes em recursos naturais, ou a vida de palestinos vivendo no exílio.

Na apresentação à imprensa, na última quarta-feira, a direção da Documenta escolheu cinco artistas com trabalhos entre os mais engajados para fazer um pronunciamento. O artista plástico do Benin Romuald Hazoumé, por exemplo, abriu seu discurso descrevendo o paradoxo que existe em seu país natal, onde há recursos naturais como gás natural e, ao mesmo tempo, a população não tem energia elétrica. O trabalho de Hazoumé exposto na Documenta é um barco feito com embalagens plásticas que são utensílios indispensáveis na país – são usadas para transportar água e combustíveis em regiões sem infra-estrutura. "A globalização é um barco no qual poucas pessoas embarcaram", diz o artista.

A mostra ganha objetividade ao incorporar diversos trabalhos que usam fotografia e montagens de vídeo com linguagem semelhante ao fotojornalismo e ao documentário. É o caso da artista palestina Ahlam Shibli. Ela fotografou a vida em um campo de refugiados palestinos na Jordânia. Casas inacabadas, áreas abandonadas e fotos antigas fazem parte do cenário. Em outro exemplo, Guy Tillim expõe fotografias feitas durante a campanha para as primeiras eleições presidenciais na República Democrática do Congo, no ano passado. Nas imagens aparecem cartazes colocados em ruas da periferia e comícios em estádios de futebol.

Por ser uma exibição ampla, com quase 500 obras de 113 artistas, a Documenta oferece uma grande diversidade de assuntos, da alteração na paisagem causada por hidrelétricas a obras sobre o marxismo. O sul-africano Churchill Madikida, por exemplo, fez uma instalação em que o tema central é a epidemia de aids que assola o continente africano. Sem recorrer a metáforas, o artista usa caixões, velas e flores para mostrar sua visão sobre o problema. Nas paredes, imagens ampliadas do vírus HIV.

No mesmo museu onde está a instalação de Madikida, a Neue Galerie, a norte-americana Mary Kelly revisita o movimento feminista. No centro de sua instalação, uma casa de vidro conta em frases contundentes o esforço de emancipação que ocorreu no último século. "Quando cheguei na universidade não sabia fritar um ovo. Minha mãe não quis que eu aprendesse a cozinhar para não acabar servindo a um homem", é uma das frases. Mary também recria expressões e imagens do movimento feminista, ligando os slogans da década de 70 com seu trabalho atual.

Apesar do tom engajado, a Documenta não é uma mostra de alta-voltagem, não tem a intenção de chocar. Segundo os organizadores, o objetivo é atrair e formar um novo público. "É fascinante como a maioria das pessoas não tem qualquer educação sobre arte", afirma a curadora da Documenta, Ruth Noack. "Optamos pelo didatismo para mostrar de onde vem a arte que é feita hoje."

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