Histórico
O Belvedere foi construído em 1915, depois da demolição da capela do Alto do São Francisco. Saiba mais sobre o espaço:
1915
Mirante
1922
Sede da emissora de rádio do Paraná, chamada PRB-2
1931
Observatório Astronômico da antiga Faculdade de Engenharia do Paraná
1962
Sede da União Cívica Feminina Paranaense
2008
Após reforma, foi usado como posto da Polícia Militar, mas logo foi fechado
2012
Torna-se endereço do Centro Estadual de Defesa de Direitos Humanos da População de Rua
2014
Em dezembro, o governador Beto Richa sanciona lei que cede, por 20 anos, o espaço à Academia Paranaense de Letras
De casarão histórico desamparado, o Belvedere da Praça João Cândido, em Curitiba, retomou seu prestígio e tornou-se centro de uma pequena "guerra" na cidade. De um lado, a doação do espaço pelo executivo estadual para abrigar a nova sede da Academia Paranaense de Letras (APL), hoje sem um espaço próprio. De outro, moradores que pedem o uso compartilhado do recinto com a sociedade, alegando que a cessão do Belvedere à instituição dos "imortais" foi materializada sem nenhum tipo de discussão pública.
Uma das principais referências do estilo Art Nouveau de Curitiba, o Belvedere que completa cem anos em 2015 passou a ser alvo de vândalos e ponto de encontro de usuários de drogas desde sua desocupação pelo Centro Estadual de Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua e dos Catadores de Materiais Recicláveis (Centro Pop Rua), em maio deste ano. A vulnerabilidade do primeiro mirante da capital chamou a atenção dos moradores que, indignados, passaram a reclamar da pichação constante. A imponente fachada azul perdeu seu brilho; assim como o próprio casarão, sinônimo de vanguarda na década de 1920, ao abrigar a primeira emissora de rádio do estado, a PRB-2 (Rádio Clube Paranaense).
As ações consecutivas de depredação do Belvedere levaram o governo do estado a estudar, desde outubro, a concessão do espaço para a nova sede da APL. A ideia virou projeto de lei, sancionado nesta segunda-feira (15) pelo governador Beto Richa. Publicada no Diário Oficial de hoje, a lei garante o direito do uso do imóvel pela Academia pelos próximos 20 anos. O local também deverá receber o Observatório de Cultura Paranaense, agregado de atividades culturais, como oficinas e palestras voltadas à comunidade.
Além de um novo destino, o Belvedere curitibano também ganhou uma "repaginada". Desde o último sábado, o mirante passa por reformas emergenciais, realizadas por detentos participantes de um projeto instituído para restaurar prédios públicos. A ação, que deve ser finalizada hoje, tenta retomar as cores e as formas da construção e inclui limpeza e pintura das paredes externas e internas do imóvel, que também já se viu livre dos entulhos acumulados em seu interior.
Trincheira
Ao mesmo tempo em que o governo torna oficial o Belvedere como sede da APL, um grupo de curitibanos luta para a abertura de um canal de discussão pública sobre a ocupação do local. "O estado deveria restaurar a casa de fato, garantindo sua estrutura de funcionamento com o uso compartilhado do espaço com a sociedade", descreveu um dos idealizadores da frente no Facebook, rede social por meio da qual o movimento é organizado.
Procurado pela Gazeta do Povo, um organizador do movimento preferiu não comentar os conceitos do grupo. Pelas redes sociais, eles questionam a cessão do Belvedere à APL, compreendida como uma "entidade de elite". Os integrantes do manifesto também pedem que o casarão cumpra seu real papel enquanto aparelho social de uso compartilhado.
No último domingo, a frente programou um evento com diversas atividades culturais em frente ao Belvedere. A programação contemplava, sobretudo, apresentações musicais, pensadas para funcionar como uma "transmissão simbólica" da antiga rádio PRB-2. O evento foi interrompido pela Guarda Municipal que, segundo a prefeitura, agiu de maneira legal, pois o grupo não possuía autorização para usar o local.
Mudança
APL prevê estrear nova sede em 2015
Com a sanção do documento que oficializa a entrega do Belvedere à Academia Paranaense de Letras (APL), a expectativa é de que os imortais passem a usufruir do espaço já em 2015. De acordo com o diretor de Documentação e Acervo da APL Ernani Lopes Buchmann, o anteprojeto que define a restauração do espaço já foi finalizado e precisa, agora, passar pela aprovação da Coordenação de Patrimônio Cultural do estado.
O projeto de restauração foi elaborado gratuitamente por arquitetos do Serviço Social do Comércio (Sesc). "É um projeto que ainda precisa ser melhor definido, mas que vai manter todas as características originais da casa", afirmou Buchmann, que ocupa a cadeira número 2 da Academia.
De acordo ele, a ideia é que a APL, que hoje utiliza um espaço do Centro Paranaense Feminino de Cultura, faça uso exclusivo do segundo andar do casarão. O primeiro pavimento deve ser destinado à implantação do Observatório da Cultura Paranaense, um projeto amplo de atividades culturais. O projeto também contempla a instalação de um café no local.
APL
Fundada em setembro de 1936, a Academia Paranaense de Letras substituiu a antiga Academia de Letras do Paraná, criada em 1922 e dissolvida por problemas políticos. Ao todo, foram quarenta cadeiras dispostas aos intelectuais. Entre o grupo que inaugurou a instituição encontravam-se os escritores João Cândido e Sebastião Paraná.
Colaborou Fábio Cherubini