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 | Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
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Caminhos

Curitiba entre a rebeldia, a dependência e as alternativas

No fim de novembro passado o diretor do portal Estante Virtual, André Garcia, visitou alguns lojistas curitibanos e se reuniu com eles no Sebo Kapricho para avaliar as demandas e as futuras ações. "Muito do que mudamos foi para atender os lojistas e melhorar processos", diz.

Os livreiros curitibanos não pensam em deixar a situação em panos mornos, embora reconheçam uma parcela de culpa. "Nós reuniremos muitos lojistas afetados na cidade e conversaremos com os representantes do Livronauta [outro portal online de comercialização de livros] para estudar um modelo de migração de acervos. De certo modo, nós deixamos a situação chegar a este grau de dependência. Agora precisamos de alternativas", afirma Jucelino Oliveira, proprietário do Sebo Kapricho. "Não entendo a grita completamente. Não é o 12% que vai quebrar os lojistas. Quem já foi vender seus livros no sebo sabe que o material é revendido com uma margem de lucro bem significante", rebate Garcia.

Fundada em dezembro de 2010 pelo curitibano Giancarlo Rubio, também filho de livreiros, o site Livronauta é considerado um bom caminho por supostamente ter ferramentas para controle de estoque e formas de pagamento mais amplas que o Estante Virtual. "Mas teremos que estudar campanhas de divulgação e promoções regulares para trazer nosso faturamento ao estágio anterior", completa Oliveira.

  • Marcos Duarte, proprietário da Joaquim Livraria & Sebo, e as discussões entre lojistas e o site Estante Virtual: a guerra dos 6%

A ideia foi realmente boa. Em 2004, ainda na faculdade, o administrador carioca André Garcia, de família tradicionalmente ligada aos livros, pensou num modelo on-line de marketplace – espaço-base para se ofertar produtos e serviços de vários vendedores – voltado ao segmento de livros usados. Em 20 de outubro de 2005 era criado o Estante Virtual.

O negócio, iniciado com menos de 20 lojistas, vingou. Atualmente, o portal é o terceiro maior vendedor de livros do Brasil e líder no setor de usados, com 1,3 mil livreiros e acervo de aproximadamente 12 milhões de exemplares, o maior em língua portuguesa.

Mas, eis que no fim de maio, o portal anunciou uma série de mudanças estruturais internas, ainda imperceptíveis ao consumidor, como aumentos tarifários e novas faixas de custos e faturamento. Os sebos cadastrados no Estante Virtual ficaram à beira de um ataque de nervos.

O marketplace dos sebos age como uma espécie de cancela e vitrine para os lojistas, que podem disponibilizar seus acervos e, diante de cada venda, devem repassar uma comissão, além de pagar um valor fixo mensal. De modo mais amplo, pode-se vender para o Brasil todo, mesmo tendo uma loja física no mais afastado dos rincões, mas se deixa um percentual de seu lucro pelo caminho.

Na ótica do cliente final, imprescindível, a praticidade é evidente, de busca fácil por autor, título e editora a informações detalhadas do estado físico de cada obra. "Gosto de comprar on-line porque é organizado e evita que eu saia garimpando o que quero infinitamente. Mas já tive problemas com devoluções e livros indisponíveis", alega a bibliotecária Jacqueline Carteri.

Os lojistas reconhecem o poder da ferramenta. As queixas envolvem outras condições, nas entranhas do negócio. "Eles lavam as mãos quando se trata das reclamações dos clientes e simplesmente não há uma central de atendimento que possamos usar para conversar diretamente com o intermediador", afirma Marcos Duarte, proprietário da Joaquim Livraria & Sebo.

Calcanhar

Primeiramente, o lojista precisa se adequar aos planos do portal, que varia de pacotes de dois mil a 60 mil livros. Após definir quantas obras quer disponibilizar, passa-se a pagar uma mensalidade fixa. Antes de junho, o portal cobrava 6 % para cada venda efetuada. Agora, as taxas foram para variáveis entre 8 % e 12%, de acordo com o volume de venda de cada lojista. "É justamente isso que mais penaliza. A revisão tarifária prejudica substancialmente os pequenos livreiros. Quem vende muito, vai continuar vendendo muito. Mas quem vende pouco, vai vender cada vez menos, já que teremos de retirar alguns livros, principalmente os mais baratos, inviáveis à venda", critica Duarte.

André Garcia não concorda com o viés do prejuízo unilateral. "Nós não daríamos um tiro no pé assim. Todas as mudanças tarifárias refletem uma necessidade de melhorar o negócio para o lojista e aumentar nossa capacidade operacional e o aumento das vendas dos lojistas", alega. "Você prefere pagar 6% de R$ 1 mil ou 12% de R$ 2 mil?", completa.

O aumento das tarifas gerou uma série de reações, de petição virtual a desvinculação de quase 150 lojistas, que retiraram aproximadamente três milhões de obras do site – em grande parte, retornaram depois de conversações. Para Jucelino Oliveira, proprietário do Sebo Kapricho, a Estante erra em mais frentes. "O atendimento é falho, o sistema de qualificação é precário, os dados de faturamento da empresa são fechados e, sobretudo, sempre fica a sensação de que a responsabilidade por aquilo que não sai como deveria é culpa exclusiva do lojista", afirma.

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