Roméo (Jérémie Elkaïm) e Juliette (Valérie Donzelli) se conhecem por acaso. Riem da coincidência dos nomes - estranha, mas ainda assim, engraçada. Um deles profetiza: "Teremos um destino terrível". O "destino terrível" do casal não envolve famílias rivais ou casamento às escondidas - é a luta para manter vivo um filho que está com câncer no cérebro. Esse é apenas o começo de "A Guerra está Declarada", drama que estreia em São Paulo e Rio e foi escolhido como representante francês na disputa por uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A guerra do título é, claro, uma metáfora. O casal, numa das noites de agonia enquanto a criança está no hospital, ouve no rádio que o Iraque foi invadido. Uma guerra foi declarada - mas a guerra que a família vive dentro de sua casa pela vida do pequeno Adam (César Desseix) é tão dolorosa quanto qualquer conflito bélico. É uma batalha pela vida e, ao mesmo tempo, pela sanidade dos pais. Dirigido por Valérie Donzelli e escrito por ela e Jérémie Elkaïm, o longa é autobiográfico, baseado na história do filho do casal, Gabriel Elkaïm, que faz uma pequena ponta no filme. Há cenas em hospital, isso é inevitável, mas "A Guerra está Declarada" interessa-se mais pelas teia de relações humanas que se forma e esvai nessa luta complexa. A criança, sua doença e seu tratamento são vistos de uma forma distante. Acompanha-se de perto a dor e as aflições dos pais, consumidos pela incerteza. A família de ambos os lados também está junto - mas, com sua curiosidade natural e alarmismo, nem sempre os parentes são de grande ajuda. A guerra, como se vê, é de Juliette e seu Roméo. Sozinhos, como ele mesmo percebe, não seriam capazes de vencer. Há, em cada cena, uma espécie de catarse do casal - tanto dos personagens quanto dos atores/roteiristas. Cada segundo é um passo mais próximo de uma resolução daquilo que os consome. Os diagnósticos são ditos em uma língua que eles - e a gente - nem sempre entendem. A presença deles - e do filho verdadeiro - é um indício de que mais do que um filme, eles buscavam a superação das marcas desse trauma. O filme se recusa a apelar às lágrimas, ao suspense desnecessário - e dado o tema, isso seria muito fácil. Assim como o casal se recusa também a entregar os pontos e cair na depressão. Estranhamente, é um filme um tanto alegre, mas não é surpresa que seja uma celebração. O riso e a fantasia se transformam no antídoto ao medo e à tristeza. A trilha sonora eclética contribui para a dramaticidade de cada cena e inclui até uma bela versão de "Manhã de Carnaval", clássico brasileiro do filme "Orfeu do Carnaval" (59), numa interpretação da Filarmônica da Cidade de Praga, além de músicas de Sébastien Tellier e Peter von Poehl. Mas a que mais ressoa é uma de Laurie Anderson, "O Superman", em que alguns versos dizem: "Porque quando o amor se vai, há sempre a justiça; e quando a justiça se vai, há sempre a força; e quando a força se vai, há sempre mamãe". Esse poderia ser o hino de Valérie/Juliette. Se este fosse um drama hollywoodiano, esperaríamos lágrimas fáceis da manipulação, brigas, lares desfeitos e uma bela lição de vida. Mas Valérie e Elkaïm, que conhecem cada segundo desse drama na vida real, não transformam nenhum personagem em mártir - principalmente eles mesmos. Este é um filme sobre a vida.
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