Franco Moretti: disposição de olhar para os romances baratos| Foto: Divulgação

Plano da obra

Confira abaixo como é organizada a coleção O Romance – e as divisões de cada volume. A Cosac Naify planeja lançar o próximo em junho de 2010 (os outros três devem sair à razão de um por semestre)

Volume 1

A Cultura do Romance

1. O romance se faz espaço

2. Narração e mentalidade

3. Gente que escreve, gente que lê

4. Narrar a modernidade

Volume 2

As Formas

1. Os gêneros literários

2. A escrita romanesca

3. Alto e baixo

4. Limites incertos

Volume 3

História e Geografia

1. Poligênese

2. A aceleração europeia

3. Em direção à literatura mundial

4. Futuro passado

Volume 4

Temas, Lugares, Heróis

1. A longa duração

2. Temas

3. Lugares

4. Heróis

Volume 5

Lições

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Ilustração para Dom Quixote
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A ambição de Franco Moretti é enorme. Em italiano, ela ficou com mais de 4 mil páginas. No Brasil, o primeiro de cinco volumes tem 1.120 páginas e acaba de ser publicado pela Cosac Naify, com tradução da curitibana Denise Bottmann.

Enorme é a extensão do estudo que Moretti batizou, sem firulas, de O Romance. O título também serve de sinal para o objetivo do pesquisador italiano que escolheu a literatura como alvo de interesse – seu irmão, Nanni Moretti, preferiu o cinema (ele escreveu e dirigiu Caro Diário e O Quarto do Filho).

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Com o trabalho de 178 colaboradores, oriundos de 99 instituições de ensino do mundo todo, Moretti quis traçar a história do gênero que melhor definiu a literatura no século 20 – e continua a representando como nenhum outro no 21.

"Existem muitas maneiras de falar sobre a teoria do romance, e a minha consistirá discutir três questões: por que os romances são escritos em prosa, por que tão frequentemente são histórias de aventuras; e por que houve, ao longo do século 18, uma ascensão do romance na Europa, e não na China", disse Moretti em artigo publicado pela New Left Review no ano passado, parte da conferência Teorias do Romance, organizada pelo projeto que leva o nome da coleção ora lançada.

A escolha de abordar a literatura como um fenômeno global de verdade, sondando obras e estudos tanto do Ocidente quanto do Oriente, foi um dos movimentos mais elogiados do pesquisador italiano. Estudos costumam se concentrar na versão moderna e ocidental do romance. Moretti detona essas ideias e viaja longe. "É o romance como um sistema planetário", explica a professora Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos, da Universidade de São Paulo.

Numa de suas análises inspiradas – seus textos são incrivelmente acessíveis e eruditos a um só tempo –, Moretti explica características próprias às histórias narradas por chineses e àquelas contadas por tipos como Flaubert, Joyce e Goethe. "Como ficariam os títulos europeus sem nomes próprios?", questiona Moretti. (Vide Os Sofrimentos do Jovem Werther, Madame Bovary, Finnegans Wake...)

Entre as grandes obras-primas da China, não há sequer um título assim. Os protagonistas de romances chineses não são indivíduos e sim grupos – o que dá a eles uma quantidade impressionante de personagens. Para se limitar aos livros mais importantes (os títulos traduzidos o foram a partir do inglês por Joaquim Toledo Jr.): Os Acadêmicos tem 600 personagens; A Margem d’Água e Jing Ping Mei, 800; e A História da Pedra, com suas duas mil páginas, lista 975!

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Outra opção incomum que Moretti faz é considerar não apenas o cânone, mas também os livros populares, os best sellers de que ninguém mais se lembra – a eles é dedicado um tanto da terceira parte de A Cultura do Romance.

"Tomar o estilo de romances baratos como o objeto básico de estudo e explicar o de Henry James (autor de Retrato de uma Senhora) como um improvável produto marginal: é assim que uma teoria do romance deveria proceder – porque é assim que a história procedeu. E não o contrário", afirma Moretti no mesmo artigo.

Entre os colaboradores que fazem parte de O Romance, estão os brasileiros Roberto Schwarz e Luiz Costa Lima, além de um time de galácticos da crítica literária: Fredric Jameson, Beatriz Sarlo, Peter Burke, Hans Magnus En­­zensberger, Umberto Eco e outros.

Separado em quatro partes, o primeiro volume começa com um texto do peruano Mario Vargas Llosa ("É Possível Pensar o Mundo Moderno sem o Romance?") e termina com um do italiano Claudio Magris ("O Romance é Concebível sem o Mundo Moderno?").

Nas palavras da professora Sandra, a tarefa do romancista é "construir o sentido de uma vida e de um mundo que perdeu o sentido". Logo, o mundo moderno e o romance foram feitos um para o outro.

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Serviço

O Romance – Volume 1: a Cultura do Romance, de Franco Moretti (org.). Cosac Naify, 1.120 págs., R$ 130.