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A divulgação que Jesus – A História do Nascimento recebeu no Brasil pode gerar expectativas equivocadas. O cartaz do filme traz em letras garrafais o nome Jesus acompanhado, em fonte bem menor, do subtítulo A História do Nascimento. Um provável truque malicioso de quem precisa vender o filme.

Seja como for, o longa-metragem dirigido pela americana Catherine Hardwicke (do ótimo Aos 13) não é sobre Jesus, mas uma reconstituição dramatizada sobre os episódios que cercam o nascimento do menino santo. Portanto, o título original The Nativity Story, que em português significa "a história da natividade", faz mais jus ao que é, de fato, o filme que chega aos cinemas brasileiros este fim de semana.

A religião no cinema é quase sempre associada ao cinema épico produzido por Hollywood entre os anos 30 e 60. Um exemplo clássico é o diretor Cecil B. de Mille, que levou aos cinemas, por duas vezes, a história dos Dez Mandamentos (na segunda com Charlton Heston no papel de Moisés). O gênero se esvaziou na segunda metade do século 20 graças ao alto custo das produções, que exigiam centenas ou até milhares de figurantes e a construção de cenários grandiloqüentes. Essa era também uma exigência do cinema de alto padrão da época, que usava planos abertos para narrar ações de grande escala (basta lembrar do mar que se abre perante Moisés no filme de B. de Mille).

Hoje, o cinema está mais enxuto e parece ter criado condições para a volta do filme religioso de qualidade padrão A. A Paixão de Cristo mostrou que é possível usar câmera na mão, planos fechados e edição fragmentada (que já foram identificados com o gênero alternativo) para fazer cinema de grande abrangência. Tanto que a produção dirigida por Mel Gibson (que custou U$S 30 milhões e arrecadou U$S 370 milhões, apenas no mercado norte-americano) chegou a ser definida como criadora de um subgênero, "o terror histórico", uma referência às torturas explícitas mostradas pelo filme. A Paixão mostrou ainda que cinema de temática religiosa não precisa ser tão épico nas pretensões: basta fazer um recorte da vida de um personagem ou de um episódio.

O produtor de Jesus – A História do Nascimento, Wyck God-frey, admitiu, em entrevista à imprensa americana, que o sucesso do filme de Gibson abriu caminho para o seu projeto. O filme foi rodado todo em locações no Marrocos, usando um elenco pouco conhecido e muito "global", com participações de atores da Nova Zelãndia, Guatemala, Trinidad, Camarões e Irlanda, entre outros.

A produção narra o que a diretora descreveu como "percurso espiritual de José e Maria", ou seja, a jornada dos personagens, interpretados por Keisha Castle-Hughes (indicada ao Oscar por Encantadora de Baleias) e Oscar Isaac, rumo à Belém, onde nasceu Jesus Cristo. Ações paralelas também mostram a trajetória dos Reis Magos, quase sempre usados como alívio cômico, até reconstituir a cena do presépio com efeitos especiais sutis.

A fé dos personagens vem de uma realidade dura retratada por uma minuciosa reconstituição histórica. Os atores aprenderam a usar ferramentas de época e até a extrair leite dos animais. "Não queríamos anunciar o nascimento de Cristo com trompas, mas como se fosse um vento que passa pela copas das árvores", disse o roteirista Mike Rich, para descrever o realismo e a discrição da abordagem proposta. Também foi dada atenção especial aos diálogos, o que passará despercebido na maior parte das salas brasileiras, já que o filme está sendo lançado, em grande parte, com cópias dubladas. Resta conferir quanto sucesso fará esse retorno ao filme religioso pelas vias do cinema contemporâneo.

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