• Carregando...
 | Reprodução
| Foto: Reprodução

Suzana Amaral tinha mais de 50 anos quando fez A Hora da Estrela, seu primeiro filme. Antes, era mãe de família, dona de casa. Virou cineasta quando decidiu ter outra vida. E escolheu começar por Clarice Lispector – depois trabalharia com outros escritores brasileiros, Autran Dourado (Um Vida em Segredo) e João Gilberto Noll (Hotel Atlântico).

Houve quem julgasse A Hora da Estrelaintraduzível em imagens. Não acreditavam que a prosa de Clarice pudesse ganhar asas no cinema. O que na literatura mesclava realidade e enigma, ironia e compaixão, sempre nas entrelinhas, nunca de forma óbvia, não era para ser filmado. A história de Macabéa, jovem nordestina ingênua, ignorante e esperançosa poderia dissolver-se na tentação do melodrama. O roteiro, também escrito por Suzana, uma estreante, contrariou as apostas e encontrou o tom certo. O patético. Mas não aquele que desdenha do personagem, mas o que o compreende em sua complexidade, sem negar-lhe a graça, a comédia nem o drama. Fez um clássico nacional.

A paraibana de Cajazeiras Marcélia Cartaxo venceu o Urso de Prata de melhor atriz no papel da Macábea de Clarice. A personagem passou também a ser um pouco de Suzana. São hoje antológicas as cenas da moça pisando na linha amarela da zona de embarque do metrô de São Paulo, os ingênuos encontros no banco de praça com José Dumont, seu diálogo surreal com a vidente Madame Carlota (Fernanda Montenegro).

Mas o sucesso tem suas contraindicações. Marcélia passou, para muitos, a ser a personagem, talvez porque fosse desconhecida do grande público antes do longa. Virou sinônimo de mulher pobre, "cabeça chata", retirante do Nordeste. Ficou estigmatizada e chegou a anunciar que iria abandonar a carreira por falta de papéis, apesar de ter brilhado em filmes como Madame Satã e 16060.

Às vésperas de completar 25 anos, A Hora da Estrela, o filme, é um exemplo de boa adaptação de um grande livro para o cinema, como Vidas Secas, romance de Graciliano Ramos filmado por Nelson Pereira dos Santos, e Macunaíma, clássico modernista rodado por Joaquim Pedro de Andrade. Não são muitos, no entanto.

Serviço

A Hora da Estrela. Brasil, 1985. Direção de Suzana Amaral. Indisponível em DVD, apenas em VHS.

Veja também
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]