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O funk só sairia do forno dali a três anos, mas os ingredientes do estilo começavam a ser revelados por James Brown em outubro de 1962, em uma série de shows no mítico Apollo Theatre, em Nova York. Uma dessas performances, ainda bem, foi registrada e depois eternizada em Live at the Apollo. O disco, que completa 50 anos, volta e meia é apontado como o melhor da carreira do artista, mesmo sem conter um único dos hits que ditariam os rumos da música negra a partir de 1965. O que se escuta ali é uma banda no auge da forma, impecável na marcação do ritmo e tão frenética que seus integrantes parecem estar prestes a desmaiar por falta de fôlego. Inclusive nas baladas.
Não foi fácil para Brown convencer o dono da King Records, Syd Nathan, de que um disco ao vivo seria importante para a sua carreira. Aliás, ele não convenceu. Nathan não queria saber de LPs, muito menos ao vivo, pois achava que só os singles é que vendiam bem. O cantor então agendou uma semana inteira de shows no Apollo (com cinco apresentações por dia!) e bancou a gravação do próprio bolso. Quando o executivo ainda assim se recusou a lançar o álbum, Brown passou a distribuir cópias para amigos nas rádios. A pedido dos ouvintes, os DJs chegavam a pôr no ar a íntegra do show. Cansado de responder às perguntas sobre o trabalho engavetado, Nathan colocou-o no mercado em maio de 1963. Live at the Apollo vendeu 1 milhão de cópias, chegou ao segundo lugar das paradas e inaugurou uma nova fase na carreira do "sr. Dinamite", um dos inúmeros apelidos de James Brown.
O cantor fazia shows regulares no Apollo desde 1959 e àquela altura já tinha conquistado a implacável plateia da casa. Segundo o biógrafo R. J. Smith, o artista insistia em lançar o disco ao vivo porque queria ganhar o resto do mundo. "O Apollo era o último estágio do circuito negro, que Brown dominava. A partir daí, o único lugar para onde poderia ir era de volta ao Apollo, ou então, transpor de algum modo essa fronteira", escreve o autor em James Brown: Sua Vida, Sua Música (Leya, 2012).
Do instante inicial em que o MC Fats Gonder pergunta se o público está preparado para a "hora do astro" antes de chamar "o cara que mais trabalha no show business" (Brown se apresentava mais de 300 noites por ano) até a brincadeira nos acordes finais de "Night Train", passando pelo medley que espreme 9 músicas em 6 minutos e meio, Live at the Apollo é um capítulo essencial da história da música. Pode não ser o nascimento do funk, mas a longuíssima "Lost Someone", sozinha, ajudou a transformar o R&B em algo até então pouco conhecido: soul music, o gospel pagão.
Além dos "aniversariantes" At Folsom Prison e Live at the Apollo, a Gazeta do Povo traz uma lista de oito discos ao vivo essenciais para a sua coleção:
Essenciais
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