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Nova Iorque – Em 15 de agosto de 1945, o imperador Hirohito do Japão – 124.º descendente da Deusa do Sol Amaterasu – tomou uma difícil decisão: dirigiu-se aos seus súditos apelando que as operações militares fossem interrompidas. Em seguida, renunciou à divindade para se tornar apenas um símbolo da unidade do seu povo.

Esta história é contada em The Sun (O Sol), no novo filme de Aleksandr Sokurov, mostrado numa sessão especial na 43.ª edição do Festival de Nova Iorque. O diretor russo está de volta ao festival, onde apresentou, em 2002, Arca Russa, um filme que mostrava, num só plano, três séculos da história de seu país.

The Sun é o terceiro filme da trilogia sobre líderes todo-poderosos, que ele iniciou, em 1999, com Moloch (sobre Hitler), seguido de Taurus, em 2001 (sobre Vladimir Lênin). É também o primeiro em que o diretor focaliza, em primeira instância, o caráter humano do retratado. "Eu quis extrair um retrato de Hirohito como um indivíduo ligado aos princípios humanos. Não estava preocupado com fatos históricos ou na reconstituição do período", diz Sokurov, que teve como primeira profissão a de historiador.

Mas, como reafirma o que já tem declarado em várias entrevistas, ele não consegue imaginar eventos históricos em um tempo passado. "Acho que os fatos continuam presentes, interferindo e contribuindo para os novos acontecimentos. Vejo isso constantemente na Rússia e no resto do mundo sei que não é diferente", afirma.

A ação do filme se passa em 1945 e mostra como Hirohito teve que enfrentar as conseqüências de sua decisão, que evitou a perda de milhares de vidas dos dois lados do conflito.

Sokurov diz que isso tem a ver também com sua terra natal. "A decisão do Imperador poupou também a União Soviética, que não precisou enviar tropas para lá. Ele acreditava no poder do diálogo e da negociação, coisas que o mundo de hoje está tremendamente necessitado", diz.

The Sun mostra alguns encontros de Hirohito com o general norte-americano MacArthur, que evitou que o imperador não fosse processado por um tribunal militar. Ele recomendou ao então presidente Dwight Eisenhower que o governante japonês não fosse declarado um criminoso de guerra.

"Assim como Hirohito, que é o símbolo de algo que terminou construtivamente, o general McArthur também merece todo o crédito. Em 1945, eles encontraram uma saída para uma situação que parecia impossível de resolver", opina Sokurov , acrescentando que, não fosse esse entendimento, os soldados japoneses continuariam lutando, mesmo depois de ter havido o lançamento das bombas em Hiroshima e Nagasaki.

Hirohito é vivido pelo ator japonês Issey Ogata, que, ao aceitar o convite de Sokurov para viver o papel, sabia que estava correndo um risco, já que leis japonesas proíbem que pessoas atuem representando o imperador. Por causa disso, Sokurov resolveu não tornar público durante as filmagens o nome do ator que estava interpretando o papel de Hirohito.

O diretor russo vem de uma escola ligada a escritores e pintores. Isso contribui certamente para que, a exemplo de outros filmes seus, a direção de The Sun seja exuberante e teatral. Sua câmera muitas vezes se assemelha a um personagem. "Acho que o cinema tem recursos imensos. É preciso muito trabalho para criar uma obra artística, não apenas fisicamente mas também no sentido de trazer inovações e contribuir para o desenvolvimento da arte", afirma.

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