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Devendra Banhart: expoente do chamado freak folk | Divulgação
Devendra Banhart: expoente do chamado freak folk| Foto: Divulgação

Devendra Banhart é meio latino, tanto em seu DNA quanto na sua música. Nascido em Houston, no Texas, mudou-se, ainda na infância, para a Venezuela, terra natal de sua mãe. Do país sul-americano, onde viveu até os 14 anos, quando retornou aos Estados Unidos para viver com a mãe e o padrasto em Los Angeles, trouxe o gosto pelos ritmos mais calientes, presentes em toda a sua discografia, mas particularmente determinantes em muitas faixas do recém-lançado Mala, seu oitavo álbum e o primeiro pelo selo Nonesuch, distribuído pela Warner Music.

Aos 31 anos, o músico é um expoente da chamada cena freak folk, subgênero que se utiliza, basicamente, de instrumentos acústicos, mas também apresenta elementos de música de vanguarda. Estabelecendo pontes tanto com o pop barroco, de artistas como Belle and Sebastian e Regina Spektor, quanto do folk psicodélico, que no passado fez a fama dos lendários (e lisérgicos) grupos Grateful Dead e Jefferson Airplane, e hoje se faz presente no trabalho dos nova-iorquinos do Grizzly Bear.

Devendra, que já abriu shows no Carnegie Hall (Nova York) para Gilberto Gil (o americano é fã da tropicália e da bossa nova), tem fortes conexões com a música da América Latina, e aí se inclui o Brasil. Tanto que Rodrigo Amarante (Los Hermanos) toca bateria e guitarra em todas as canções de Mala.

Nesse novo disco, também fica evidente, por exemplo, a reverência que Devendra tem por João Gilberto, remetendo-se muito à forma econômica e intimista do intérprete baiano. Mas também apresenta forte conexão com seu conterrâneo Beck, outro admirador declarado do tropicalismo com o qual o texano já trabalhou mais de uma vez.

O clima latinizado se faz presente de forma mais evidente em faixas como "Mi Negrita", cantada en español, e "Never Seen Such Good Things", uma canção de desamor ao mesmo tempo delicada e dilacerante que diz: "Nunca vi coisas tão boas/ E em todos os lugares estão tocando nossa canção/ Deveria saber que alguém tão parecido comigo/ Me daria o inferno e me colocaria de joelhos".

Talvez menos conectado com o já citado psych folk, Mala (Má, no idioma de Cervantes), traz sonoridades menos sujas, mais focadas em melodias de pegada latina, mas não apenas, e sempre um tom a menos, ao pé do ouvido, em tom nostálgico, de certo desencanto romântico, que as salpicam de contida e bela melancolia. Mas sem deixar de lado a busca por refrões que fisguem o público – ouçam a grudenta "Won’t You Como Over", candidata a hit.

Mala também flerta, lá pelas tantas, com sonoridades de praia, como na retrô "Fine Petting Duck", meio havaiana anos 60, entre Elvis Presley e Beach Boys. E por aí segue o disco, ótimo, encantando.

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CD- Mala - Devendra Banhart. Nonesuch/Warner Music. Preço médio: R$ 37,90. Folk.

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