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A experiência, sabe-se, é a dimensão existencial do vivido. No cinema, onde o vivido é representado e o espectador cumpre o pacto de descrença – "por ora, acredito ser real" –, o fenômeno dura umas duas horas. Há, então, uma dicotomia básica: gostar ou não gostar do filme. "Fui bem enganado?", "Isso que vi satisfaz-me em meu apanhado de expectativas acerca de um filme?" Mas acontece, às vezes, de um narrador-diretor fugir dos territórios conhecidos, confundir tudo e deixar o público até meio atarantado em suas impressões. É o caso de O Atirador, filme português que a Mostra Panorama do Cinema Mundial apresentou nesta segunda-feira (3) à noite, uma experiência narrativa muito, muito singular.

Para o enredo mal se gastam duas linhas: um casal sai em viagem. A mulher gosta muito de ler, o homem gosta muito de atirar para cima. Pouco se falam, mas parece que se gostam muito. Espécie de ode ao silêncio e, posteriormente, à desconstrução, o filme dirigido pelo trio José Oliveira, Mário Fernandes e Marta Ramos não acontece, de fato: ele é a continuação de pequenos episódios do cotidiano, como beber, comer e dormir, que pouco aparentam dizer.

Litoral e interiorPara o narrador, narrar, muitas vezes, é reduzir o sofrimento – ou expandi-lo em narrativa, tornando extrínsecas suas sensações. (E se cada um sabe o andor que carrega, seria normal supor que as narrativas pouco se pareceriam entre si, o que anda acontecendo pouco no cinema contemporâneo).

Mas muito é contado em O Atirador. De um homem mais velho que rompe o silêncio através de tiros ao céu até a moça de vestido vermelho quase alheia ao mundo exterior, exceto no que ele tem de palpável. A vida, entre longos planos de montanhas, estradas e horizontes, percorre a frequência de um fadinho serrano, os momentos pouco dramatúrgicos de alguma felicidade, tristeza e fim. GGGG

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