Gramado – Uma das artistas mais importantes e consagradas do Brasil, Zezé Motta foi a primeira homenageada do Festival de Cinema de Gramado 2007. A atriz recebeu, na noite de ontem, o troféu Oscarito, um reconhecimento pela carreira de grandes atores e sua contribuição ao cinema nacional.

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Nas telas, Zezé Motta é marcada pela inesquecível personagem Xica da Silva, do filme homônimo realizado por Cacá Diegues em 1976. "Xica da Silva foi um divisor de águas na minha vida. Ela foi minha fada-madrinha. Abriu portas, fez com que eu fosse reconhecida internacionalmente", comentou a atriz em entrevista coletiva na Serra Gaúcha.

Ela lembra que o filme permitiu que conhecesse vários países, ajudando também a deslanchar sua carreira de cantora, iniciada em 1978. "Quando fui fazer apresentações nos EUA, os cartazes anunciavam; ‘Show com Zezé Motta, atriz do filme Xica da Silva’", relembra.

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Vinte anos depois, Zezé seria convidada para viver a mãe da personagem na novela Xica da Silva, realizada pela extinta TV Manchete entre 1996 e 1997, folhetim que revelou Taís Araújo. "O (Walter) Avancini (diretor da novela) me perguntou se eu topava fazer a mãe da Xica. Pedi para pensar, não havia me dado conta de quanto tempo já havia passado, isso pesa para a gente. Mas, depois, avaliei que era frescura não aceitar. Na realidade, foi uma grande homenagem", conta, confirmando que não sentiu nenhum ciúme de ver Araújo interpretando o papel que a consagrou. "A Xica também mudou a vida da Taís. Depois, ela foi chamada para ser protagonista de novela na Globo (Da Cor do Pecado)", confirma.

Além da poderosa escrava que conquista a alforria com sua sensualidade, Zezé Motta destaca como interpretações importantes no cinema a Dandara de Quilombo (Cacá Diegues, 1984) e a Zezé, de Tudo Bem (de Arnaldo Jabor, 1978). Numa carreira de 33 longas-metragens, Motta também teve papéis de destaque em outras parcerias com Diegues – Orfeu (1999) e Tieta do Agreste (1996) – e nos recentes filmes de Sérgio Bianchi – Quanto Vale ou É por Quilo? (2006) e Cronicamente Inviável (2000).

Engajada no movimento de valorização do negro no Brasil, a atriz fala com orgulho do trabalho do Cidan (Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro), ONG que criou há 21 anos para dar cursos de teatro a jovens carentes e ajudar os atores negros a se inserirem no mercado de trabalho. "Tenho orgulho de ter feito a coisa certa, de não ficar apenas reclamando ou me lamentando sobre a situação do negro no Brasil. O site do Cidan (www.cidan.org.br) traz todas as informações sobre nós, diz quem somos, onde estamos e o que fazemos", revela, lembrando que, atualmente, ninguém contrata artistas negros no país sem consultar antes a página da ONG.

Zezé Motta também revelou seus projetos em outras áreas artísticas. No teatro, ela ensaia o musical 7, de Charles Moeller, que deve estrear no dia 30 de agosto, no Rio de Janeiro. "Estou ansiosa porque será a primeira vez que farei uma vilã. E também porque vou ter que cantar músicas do Ed Motta no palco", observa.

A carreira musical deverá ter continuidade com o disco O Samba Mandou me Chamar, no qual está trabalhando há um ano e meio. O CD deverá sair pela Biscoito Fino, que, no momento, aguarda apoios financeiros para realizar as gravações. Motta revela que o registro será de inéditas, com novas canções de Paulo César Pinheiro, Altaiy Veloso e de compositores da nova geração do samba brasileiro.

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O repórter viajou a convite do festival.