Claudete Pereira Jorgee Rodrigo Ferrarini: a impossibilidade de comunicação entre pessoas que vivem na mesma casa| Foto: Gilson Camargo/Divulgação

A família, desde sempre, é a origem de muitos assuntos com os quais o ser humano tem de lidar por toda a vida. Para o bem ou para o mal. Há quem defenda a teoria de que tudo, ou quase, que acontece com alguém é resultado do convívio familiar. Maureen Miranda, hoje aos 33 anos, faz tempo que tem sua atenção atraída pelo assunto que, para ela, transformou-se numa "questão fundamental".

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"Tudo o que afeta o ser humano tem origem na família", afirma Maureen. Mas ela não pretende defender tese, não. É uma artista, mais conhecida pelo seu trabalho como atriz. Ela escreveu o texto e é responsável pela direção de Os Três Espelhos, que terá uma breve temporada, apenas hoje e amanhã, às 21 horas, no Teatro da Caixa.

A peça, contemplada em um edital da Funarte, é resultado da imersão que a artista fez no mote "família". Pesquisou, leu e releu diversos livros e estudos sobre o tema e, principalmente, assimilou, digeriu, processou e, enfim, encontrou uma "embocadura", uma voz, uma maneira de dizer o que, para ela, pode ser falado a respeito do assunto.

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Os Três Espelhos, a exemplo do que o título já revela, mesmo que de maneira sutil, apresenta três pontos de vista sobre um mesmo problema. Há três personagens. O filho, interpretado pelo ator Rodrigo Ferrarini; a mãe, vivida por Claudete Pereira Jorge; e o pai, que já morreu, e existe apenas enquanto lembrança, e não ganha intérprete no espetáculo.

Maureen explica que apenas o filho, de fato, está em cena. "A mãe, mesmo interpretada fisicamente por Claudete Pereira Jor­­ge, existe apenas na imaginação do filho", afirma a diretora, que ainda completa a explicação: "Mas, apenas depois de 20 minutos, é que o público percebe que a mãe é uma espécie de delírio do filho."

A solidão é outra nuance problematizada nessa proposta de dramaturgia. E há uma cena, de cinco minutos, que evidencia o isolamento existencial do personagem Samuel. Ele acende um fogareiro, coloca água para ferver e espera. Nenhuma palavra é dita. Apenas o corpo e os olhos se movimentam. O personagem coa café e sorve a bebida. "Essa situação, esse silêncio, tende a provocar um efeito perturbador. A peça, de maneira geral, pode vir a perturbar o público", afirma Maureen. Ela conta que al­­gumas amigas, presentes aos ensaios, ficaram incomodadas. "Quem já viu a peça, chorou. No mínimo, Os Três Espelhos toca em questões familiares mal resolvidas, e isso todo mundo tem", diz Maureen.

O ator Rodrigo Ferrarini afirma que, apesar de todos os problemas dos quais a peça trata, ele procurou construir um personagem bem-humorado, ex­­plosivo e extrovertido. "O meu objetivo, enquanto ator, fazendo esse personagem, é sugerir algumas questões, para que a plateia complete com as suas próprias impressões e experiências de vida. De toda forma, saliento que Samuel não é um sujeito triste", diz Ferrarini.

Claudete Pereira Jorge analisa que a peça, de maneira direta e indireta, fala da solidão de pessoas que vivem juntas. "Que é a pior solidão que existe. As pessoas vivem na mesma casa e não se falam, porque a televisão está ligada ou porque a comida está no forno", diz Claudete. Ela, que já participou de mais de 50 montagens, afirma estar satisfeita com o resultado de Os Três Espelhos. "A Maureen é uma artista surpreendente. Quem a conheceu apenas como atriz, ficará espantado com o talento que ela tem enquanto escritora e na direção", afirma Claudete, que, até por experiência, sabe que é o público, hoje e amanhã, quem dirá se a peça funciona. "Tomara que sim", dizem, em coro, Maureen, Claudete e Ferrarini.

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Serviço

Os Três Espelhos. Teatro da Caixa (R. Conselheiro Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Texto e direção: Maureen Miranda. Com Claudete Pereira Jorge e Rodrigo Ferrarini. Hoje (9) e amanhã (10), às 21h. R$ 10 e R$ 5 (meia).