Cinema
Saiba mais sobre três das adaptações mais conhecidas de Macbeth
Macbeth (1948)
Dirigido e protagonizado por Orson Welles, esta versão tem uma teatralidade que costuma causar estranheza em quem se aproxima do filme esperando dele uma versão mais realista da história escrita por Shakespeare em 1603 (ou 1606, ou 1607, não se sabe ao certo). Welles opta por cenários e uma filmagem que não privilegia muito os artifícios cinematográficos e faz escolhas que até hoje são muito discutidas, como colocar Macbeth bêbado durante uma discussão.
Trono Manchado de Sangue (1957)
De Akira Kurosawa, é a que menos segue o universo retratado pelo dramaturgo inglês, pois leva a história para o Oriente. O resultado é um dos trabalhos mais impressionantes do ator Toshiro Mifune, colaborador frequente do diretor. A cena final, em que há uma chuva de flechas, é um dos momentos históricos do cinema. Um filme indesviável.
A Tragédia de Macbeth (1971)
A versão do cineasta Roman Polanski é a mais "realística" e investe na peça com toda a força do cinema. Os cenários são impressionantes e os atores, idem (não há qualquer nome conhecido do grande público no elenco). O clima soturno sugerido pela fotografia e o clima de paranoia que parece orientar parte da filmografia de Polanski respondem pela força do filme.
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Carregando um Hamlet debaixo do braço, Aderbal Freire-Filho embarcou em outra montagem baseada na obra de William Shakespeare, Macbeth (confira o serviço da peça). Com Daniel Dantas e Renata Sorrah, a peça estreia amanhã no Festival de Curitiba.
Dantas, também produtor da peça, conta que esperou o tempo que foi preciso para ter Freire-Filho como diretor. Os dois haviam colaborado em Tio Vânia em Nova York. Macbeth rondava o ator há anos chegou a ler o texto, a flertar com a ideia de adaptá-lo, mas nunca foi além disso.
Quando, enfim, surgiu o patrocínio e encontrou uma produtora que o ajudou a colocar o projeto em movimento, passou a trabalhar para encontrar o elenco. Renata Sorrah foi uma das primeiras a se engajar no espetáculo.
A tradução do original, feita pelo filho de Dantas, João, em parceria com Freire-Filho, era lapidada simultaneamente aos ensaios, que duraram dois meses e meio.
Com um currículo que inclui versões de A Tempestade, Noite de Reis e Megera Domada, todas de Shakespeare, Dantas diz que um dos segredos para se encarar um texto do bardo inglês é agir como se fosse a primeira vez, ignorando as adaptações anteriores. Feitas as escolhas que tinha que fazer, encontradas as soluções próprias para os desafios propostos pelo dramaturgo, Dantas e Freire-Filho foram conferir (ou rever) outras versões, inclusive as de cinema.
Três dos filmes mais conhecidos de Macbeth partiram de Roman Polanski (A Tragédia de Macbeth, de 1971), Orson Welles (1948) e Akira Kurosawa (Trono Manchado de Sangue, de 1957). As produções falam do encontro do general escocês Macbeth com três bruxas na volta de uma batalha. Elas fazem profecias e uma delas diz que o general se tornará rei.
Macbeth volta para casa, percebe que uma das coisas ditas pelas bruxas de fato acontece e fica baratinado com a possibilidade de assumir o lugar do rei Duncan. Não bastasse sua ambição, há a mulher, Lady Macbeth, que não hesita em colocar pilha no marido.
Numa noite, o rei precisa de pouso e fica na residência de Macbeth. Não demora nada e o general está planejando a morte de Duncan, sempre incentivado pela mulher.
À medida que ganhou familiaridade com o texto durante os ensaios, Dantas comenta que foi possível se concentrar no que havia de mais importante em cada uma das cenas. Num momento, por exemplo, Macbeth considera a possibilidade de assumir o destino nas próprias mãos (matando o rei), na frase seguinte, soa ambicioso para, em seguida, ficar em dúvida. Daí ele teme seus pensamentos e, por fim, decide não fazer nada por enquanto. Tudo isso numa única fala.
Em vez de transitar por todos esses sentimentos, o ator teve segurança para perceber que o personagem ainda não havia dado certos passos. A dúvida parece tomar conta da cena descrita.
Futuro
Depois de montar duas peças de Shakespeare, Freire-Filho conta que a vontade é de nunca mais se dedicar a outro autor que não seja o inglês. Do século 17 até o 20, o diretor acredita que houve um retrocesso no mundo do teatro. Foi preciso o cinema surgir para liberar a dramaturgia de certas obrigações. "O teatro é muito maior e só agora chegamos ao futuro, chegamos a Shakespeare", diz.
Freire-Filho fez Hamlet com Wagner Moura e conta que assumiu a direção de Macbeth com a intimidade que só se ganha depois de montar uma peça de Shakespeare não basta lê-las, relê-las e admirá-las.
"Cada peça de Shakespeare é infinita", diz. "Entrei em Macbeth com a humildade de quem entra numa casa que nunca vai explorar completamente, mas entrei com um mapa valioso, o mapa que adquiri quando fiz Hamlet", diz.
Ele defende o tipo de teatro pregado pelo diretor britânico Peter Brook, que cunhou a expressão "teatro vivo" para falar de uma arte em que o público, nas palavras de Freire-Filho, "vai, acredita, gosta, participa, sabe que é falso, mas participa do jogo, aceitando a ilusão. Uma ilusão diferente da do cinema, em que o ator sempre mostra que está ali".
Serviço
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