O escritor vencedor do prêmio Pulitzer Michael Chabon, num ensaio de Maps and Legends (McSweeneys, sem tradução no Brasil) sobre a origem do fanatismo que faz a indústria cultural faturar os tubos com leitores obcecados por livros e filmes na linha de Harry Potter ou da cinessérie Star Wars, aponta Conan Doyle como o inventor das histórias de detetive. Pedindo perdão a Edgar Allan Poe.
A afirmação de Chabon se baseia na técnica do escritor escocês que enveredou para a literatura porque não se deu bem na medicina. Ficou no curso tempo o bastante para ter aulas com um certo dr. Joseph Bell em 1876, professor de "diagnóstico narrativo", ou o que ele chamava também de "ciência da detecção".
Bell atuava na Enfermaria Real e levava seus alunos para a sala de recepção para exibir uma capacidade embasbacante de decifrar os problemas dos pacientes sem ter de falar com eles. Usava apenas a observação.
House, o protagonista da série de televisão homônima, muito popular por sinal, pode vir à lembrança e isso é elementar. O personagem vivido por Hugh Laurie é um dos muitos inspirados em Sherlock Holmes. Porém, em vez de resolver crimes, soluciona casos médicos. Seus sobrenomes começam com a letra agá e seus melhores amigos têm as mesmas iniciais: John Watson e James Wilson. Provas de que os criadores do seriado não dão ponto sem nó.
O impacto de Bell sobre Conan Doyle se tornou público quando as narrativas foram reunidas em livro e o autor inseriu uma nota agradecendo o professor por tê-lo inspirado na criação de Holmes.
Antes de explicar o fascínio de Sherlock, é o caso de dizer por que a explicação é necessária e também por que, em mais de meio século de crítica literária dedicada à obra de Conan Doyle, nunca deixarão de existir estudiosos determinados a elucidar o valor dela e também matérias de jornal tratando do assunto.