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Correio Braziliense: bicentenário do periódico |
Correio Braziliense: bicentenário do periódico| Foto:
  • Veja alguns dos passos mais relevantes da trajetória de Hipólito José da Costa

"Se a imprensa brasileira tivesse começado mais cedo, a Independência, por exemplo, teria acontecido antes." A afirmação é do jornalista Alberto Dines e diz respeito ao primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense ou Armazem Literario, editado pelo jornalista Hipólito José da Costa (1774-1823), em Londres, entre 1808 e 1822. A Imprensa Oficial de São Paulo, no bicentenário do periódico (mensal), publica uma edição fac-similar, de 31 volumes – projeto capitaneado por Dines.

O Brasil, um dos últimos países a implantar a imprensa, só começou a se discutir, de fato, em 1808. "E à distância, de Londres, pelas páginas do Correio Braziliense", pontua Dines. O jornalista não economiza adjetivos para qualificar o faz-tudo do seminal impresso brasileiro: "Hipólito é o protótipo do intelectual das Luzes: humanista, liberal e cosmopolita. O periódico que ele produziu a partir da Inglaterra é produto do Iluminismo europeu e daqueles que pretendiam estendê-lo às Américas." Para Dines, se o jornal tivesse surgido antes, não apenas o cordão umbilical que unia Portugal e Brasil teria se rompido mais cedo, como o nosso país poderia ter acompanhado o Iluminismo enquanto o processo histórico acontecia no velho mundo.

Atual

A frase inaugural do primeiro jornal brasileiro, na avaliação de Dines, é não apenas atualíssima, como pode servir de profissão de fé para todo e qualquer jornalista: "O primeiro dever do homem em sociedade é ser útil aos membros dela; e cada um deve, segundo às suas forças físicas, ou morais, administrar, em benefício da mesma, os conhecimentos, ou talentos, que a natureza, a arte, ou a educação lhe prestou." Além disso, o organizador da reedição confessa ter se espantado com nuances do jornal que, além de revelar nomeações e decretos, comércio e arte, irradia um (até então) insuspeitável toque de eternidade: "Nada sugere a descartabilidade ou a fragmentação. Tudo induz à perenidade. Seja no tocante ao teor, seja nos recursos voltados para a consulta e a referência."

Dines, um entusiasta e pesquisador do jornalismo (há 15 anos à frente do programa de tevê Observatório da Imprensa, também colunista da Gazeta do Povo, aos sábados), é todo elogios para a performance de Costa. Define-o como "agente civilizador". Durante a temporada londrina, o pioneiro dialogava com nomes como Simon Bolívar e José de San Martín, além de acompanhar, in loco, o chamado jornalismo de autor, praticado por gigantes como Jonathan Swift (no Examiner) e Daniel Defoe (em Mercurius Politicus). "Hipólito não inventa um gênero, apenas utiliza modelos que circulavam na Europa", explica Dines.

Labuta

Este projeto de recuperação da memória da gênese do jornalismo brasileiro teve início no ano 2000. O bibliófilo José Mindlin cedeu as suas duas coleções do Correio Braziliense para a equipe da Imprensa Oficial paulista. Sob a batuta de Dines, com o auxílio da pesquisadora Isabel Lustosa, todas as páginas foram fotografadas e, posteriormente, digitalizadas, tratadas eletronicamente, editoradas e, finalmente, o material entrou no parque gráfico do órgão público para impressão em formato de livro. Até mesmo um índice onomástico, produzido anteriormente pela Fundação Biblioteca Nacional, foi aproveitado na empreitada.

A Imprensa Oficial de São Paulo comercializa o material, mas também encaminhou coleções completas para diversas bibliotecas e órgãos de imprensa de todo o país, "com a finalidade de disponibilizar a memória", pontua a assessoria de imprensa da entidade. Dines, por sua vez, recorda que (há 200 anos) o lançamento, em Londres, do Correio Braziliense funcionou como martelada com poder de destroçar a engrenagem entre as diversas censuras que tanto prejudicavam o desenvolvimento de Portugal e atrelavam suas colônias (o Brasil, em especial) ao atraso. "Ler, ou reler, esse conteúdo, é, além de uma viagem ao passado, uma espécie de Independência", sugere Dines.

Serviço

Correio Braziliense ou Armazem Literario, de Hipólito José da Costa. 31 volumes. R$ 600 (a coleção completa) ou R$ 20 cada exemplar. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Mais informações (11) 2799-9784 ou livros@imprensaoficial.com.br.

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