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Fonte da saudade

A grande dama do teatro paranaense saiu de cena na última quarta-feira (28). Lala Schneider morreu aos 80 anos, enquanto dormia em sua casa, na Vila Hauer. O velório reuniu familiares, colegas de trabalho e amigos no hall de exposições do Teatro Guaíra.

Lala Schneider nasceu em Irati em 23 de abril de 1926, como consta em seu registro de nascimento. Mas, a sobrinha Esmeralda Chaimv conta que ela teria nascido dois anos antes. Atriz de teatro, televisão, cinema, diretora e professora de interpretação, subiu pela primeira vez ao palco em 1950, como atriz da peça O Poder do Amor, do Teatro de Adultos do Sesi.

Em 1963, formou-se como atriz profissional no Teatro de Comédia do Paraná, do Centro Cultural Teatro Guaíra. Ali, seria professora de toda uma geração de artistas paranaenses. Lala trabalhou até o fim da vida, participando de peças, filmes e ministrando palestras nas escolas. Apesar de não dar mais aulas, ia quase todos os dias à escola de teatro Lala Schneider, que criou há sete anos no Sesc Senat.

A atriz acumulou 57 anos de carreira, 99 espetáculos, 14 filmes e mais de 40 prêmios de melhor atriz.

Há pessoas que parecem que nunca vão morrer. Gente iluminada, que deveria viver para sempre, nos mostrando os rumos a seguir. Gente que nos faz sentir mais fortes e felizes. Lala Schneider era uma dessas pessoas. Ela parecia eterna. Tinha uma maneira tão intensa de viver a vida, que imaginá-la em outro plano era praticamente impossível... Foram 29 anos de amizade intensa, de respeito mútuo e de muito amor!

A despedida dói... Dói por sabermos que jamais receberemos aquele abraço! Aquele sorriso. Lala sempre estava feliz! Sempre sorrindo, de bem com a vida.

Comecei nos palcos com 15 anos. Nas mãos dela. Chamava-me de filho... O seu filho teatral. E eu sempre brigando com ela por causa do cigarro! Maldito cigarro! É, coisas de família. Quando comecei no Curso Permanente de Teatro, do Teatro Guaíra, não sabia o que era o teatro. E foi através dela, de Ivone Hoffmann e de Armando Maranhão, que esse mundo deliciosamente louco começou a ser desenhado para mim.

Lala era incansável em suas aulas. Impossível esquecer os ensaios, as idéias, os projetos e tudo mais. Quando, em 1993, resolvi ter meu teatro, chamaram-me de louco. Construí e realizei a idéia do primeiro teatro particular do Paraná. E assim começamos a sonhar. Em 23 de abril – aniversário dela – de 1994 o Teatro Lala Schneider foi inaugurado. Jamais vou esquecer o sorriso dela, quando no palco do Guairinha, depois da estréia de O Palácio dos Urubus, dei a notícia para ela e para o teatro lotado. Foi uma comoção! Uma emoção única. Lala parecia uma criança que acabara de ganhar um presente de Natal. Hoje, sinto-me com a consciência tranqüila. Em paz com a minha amiga. Fiz, em vida, uma homenagem que poucos recebem – e que a grande maioria só desfruta após a morte.

E o texto da vida de Lala, que ela mesmo escreveu, aparentemente chega ao fim... Um fim que é um começo. Sua morte será um impulso para todos nós que amamos o teatro e que desejamos viver com dignidade dessa profissão. Lala não está mais entre nós. Deus precisou dela e Ele sabe o que e como faz.

Todos sonhamos com uma morte tranqüila, serena. Sonhamos em dormir e acordar numa outra dimensão. Nisso Deus foi bom. A maior atriz paranaense de todos os tempos nos deixou dessa maneira suave. Indolor.

Lala acordou num plano superior. Sua vida, dedicada aos palcos, foi um exemplo de garra, determinação e amor. Ela construiu uma trajetória digna, de respeito, com a admiração de todos nós. Sua carreira, sua vida e seu exemplo de vida serão eternos para todos os que amam o fazer teatral. Impossível não lembrar de Lala em cena... Um vigor impressionante. Fica uma lacuna, vazio em cena. Os palcos jamais serão os mesmos!

A energia e a vibração de Lala irão fazer falta. Os palcos lá de cima estarão, com certeza, mais felizes, mais intensos! Nós estamos órfãos... Mas tranqüilos por sabermos que a nossa Lala foi intensamente feliz. E viveu seu amor maior – o teatro – da maneira mais bonita possível.

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