Programe-se
FDP
HBO, domingos, às 20h30.
Confesso que, no geral, esportes não me despertam muito interesse algo bem problemático quando se vive no país do futebol, onde a imparcialidade esportiva não é vista com bons olhos. Mesmo assim, o argumento da série FDP, escrita por José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta (autores dos divertidos livros Terra Papagalli e O Evangelho de Barrabás), e produzido pela HBO, chamou minha atenção justamente por focar sua trama na persona mais indesejável do futebol brasileiro: o árbitro.
A sigla que da título à série é o palavrão que Juarez Gomes da Silva (Eucir de Souza) mais ouve dentro e fora de campo. Profissional ético de caráter incorruptível, Juarez conquista desafetos por onde vai: por parte de Manuela (Cynthia Fallabela), sua ex-mulher, traída e contagiada com uma doença venérea, que busca a todo custo ter a guarda total de seu filho Vini; por parte de seu padrasto portenho Guzman (Adrian Verdaguer), que não consegue que o enteado favoreça seu time do coração; por parte do juiz que cuida do caso da guarda de seu filho, pelas mesmas razões, enfim. Juarez é odiado justamente por ser bom demais.
Seus únicos e fiéis escudeiros são os bandeirinhas Carvalhosa (o sempre excelente Paulo Tiefenthaler), mulherengo e bon vivant, e Sérgio Balado (Saulo Vasconcelos), gay não assumido que mantém as aparências em um mundo de masculinidade exacerbada. Graças à competência dos três, são convidados para apitar nos jogos da Libertadores da América, sonho próximo de todo árbitro brasileiro. Por onde passam, porém, arrancam injúrias da plateia, sempre dividida em momentos polêmicos.
Está aí a graça de FDP. Embora os episódios neste começo de temporada tenham se mantido mornos e ofereçam pouca catarse ao espectador, a lógica de seu enredo é algo próprio da promiscuidade passional do casamento entre o futebol e a política, do encontro entre a esfera pública e a privada, diversão e empreendimento. E, de certa maneira, o árbitro não media apenas o confronto entre duas equipes rivais, interpõe-se no choque entre esses dois lados do futebol no Brasil, o mal necessário da burocracia dentro de campo.
Mesmo apitando na Argentina, no Uruguai ou na Colômbia, os conflitos morais que dividem o árbitro ajudam a entender os mecanismos que regem a indústria do entretenimento no Brasil. E no final, mesmo fazendo um bom trabalho, sempre há alguém para gritar a Juarez: "Filho da p...".
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