A leitura do mundo, por Belle & Sebastian

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Belle & Sebastian é aquela banda pertencente à categoria "ame ou odeie". A profundidade das letras e a suavidade das canções já são razões suficientes para muitos virarem o nariz para eles. Mas, também, para que outros idolatrem os escoceses como verdadeiros salvadores de suas vidas.

O septeto que se conheceu na Faculdade de Artes de Glasgow é hoje o que poderia ser chamado de "porta-estandarte" do indie rock. Um exemplo daqueles grupos que, ainda que com uma sólida e louvável carreira, passou à beira do mainstream, sendo promovido por muito tempo por uma pequena gravadora (Jeepster). Isso e diversas características "cults" do grupo – o nome é uma referência a um livro infantil do escritor francês Cécile Aubry e duas de suas músicas figuraram na trilha sonora do filme Juno – criaram uma legião de fãs e seguidores da banda, que lança amanhã, na Inglaterra, e terça-feira, nos Estados Unidos, Belle & Sebastian Write about Love, oitavo disco de estúdio, o primeiro desde 2006.

Liderados pelo vocalista, principal letrista e multi-instrumentista Stuart Murdoch, eles voltam ao Brasil neste ano para apresentação nos dias 10 (São Paulo) e 12 de novembro, no Rio de Janeiro, para mostrar ao vivo as 11 faixas do novo trabalho, o melhor desde Dear Catastrophe Waitress (2003).

Continua impressionante a capacidade da banda em "ler" a vida, em ao menos tentar achar uma explicação para o inexplicável em canções pop de três minutos e meio. Conhecido por ser um letrista de mão cheia, Stuart Murdoch passa algumas horas de sua semana tentando entender o mundo. O músico tem o costume de visitar cafés, ir a shoppings, e, acompanhado de seu bloquinho, sentar e observar a vida passar.

Write about Love começa falando sobre a falta de dinheiro. "Mas nós não temos dinheiro. E dinheiro faz a roda do mundo girar", canta com ar aéreo a gordinha Sarah Martin em "I Didn’t See It Coming". A música, embalada por piano, no entanto, é amistosa, reconfortante. Belle & Sebastian tem isso: no fundo, é uma banda agridoce.

"Come on Sister" é recheada de teclados e sintetizadores. Stuart declama: "São seis da manhã, homens começam a trabalhar e eu não posso dormir. Eu deveria levantar e te ligar. Eu vou te achar". Para um artista, uma noite mal-dormida pode render pérolas.

Pontos que impulsionam a banda um pouco mais para o grande público são as participações especiais. Na emocionante e frágil "Little Lou, Ugly Jack e Prophet John", é a norte-americana Norah Jones quem divide os vocais com Stuart. Parece que cantam juntos há décadas. Na canção que dá nome ao álbum, surge a voz da inglesa Carey Mulligan, indicada ao Oscar como melhor atriz pela atuação no filme Educação (2009).

O disco acerta ao retomar o que havia de mais sofisticado no início de carreira, quando Isobel Campbell ainda fazia parte da banda e, juntos, lançaram os indiscutíveis Tigermilk e If You Are Feeling Sinister. Isobel deixou o grupo em 2002 e hoje tem três álbuns lançados em companhia de Mark Lanegan, vocalista conhecido por seu trabalho com a banda Queens of the Stone Age. "The Ghost of Rockschool" e "Read the Blessed Pages" são duas das músicas que remetem a esse tempo.

A trajetória do grupo até aqui o confirma como referência do indie e do pop sofisticado como objeto de adoração. O lançamento de Belle & Sebastian Write about Love começou com uma campanha virtual. A banda pedia para que seus fãs escrevessem "Write about Love" em algum lugar, com material não durável e enviassem suas fotos. Várias foram publicadas no site oficial do grupo, inclusive imagens enviadas por brasileiros. No site da banda, há um média-metragem com entrevistas, além de um "mini show", com duas músicas do novo disco executadas ao vivo. O álbum também sairá em vinil, com duas faixas bônus. Apesar da aparente pouca visibilidade, a "legião B&S" está mais ativa do que nunca. GGGG

Serviço:

Belle & Sebastian Write About Love. Belle & Sebastian. Matador. Importado. Preço médio: US$ 15.