Sin City – A Cidade do Pecado é um filme seminal, o primeiro de sua espécie, dono de uma narrativa cinematográfica absolutamente nova. A fidelidade de Robert Rodriguez ao romance gráfico (graphic novel) de Frank Miller é explícita. Quem não conhece a revista, pode passar indiferente. Quem conhece, fica espantado. Sin City, o filme a ser lançado em DVD na próxima semana, é uma HQ levada ao cinema, mas que não se dissocia totalmente da HQ. A forma impressiona, o conteúdo, nem tanto.

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A história se desdobra em três. A melhor delas fala de Marv (Mickey Rourke), brutamontes deformado que se apaixona por uma prostituta em uma noite e, na manhã seguinte, amanhece morta ao lado dele. Irado, decide caçar os responsáveis pelo crime e se vingar. A pior é de Dwight (Clive Owen), que ajuda suas amigas prostitutas de metralhadoras a se defender da guerra iminente contra a polícia – com que havia um acordo, abalado pela morte de agente que abusava de uma das garotas.

A terceira fala do policial Hartigan (Bruce Willis), um dos poucos tiras que resiste à corrupção que embala a Cidade do Pecado, situação que acaba condenando-o – não sem antes salvar a vida de uma menina que será grata a ele para sempre. À medida que o filme avança, surgem pontos de conexão entre os episódios. O enredo, porém, não é o que importa.

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A fotografia do longa-metragem é toda em um preto-e-branco de contraste alto. O jogo entre luz e sombras parece uma releitura dos filmes noir e reproduz os artifícios criados por Miller para a revista – como o sangue branco, o que causa estranheza no início, mas acaba impressionando de qualquer forma.

O diretor Robert Rodriguez tem uma filmografia inusitada. Capaz de dirigir híbridos de terror e ação (Um Drinque no Inferno) e infantis singelos (Os Pequenos Espiões). Do aspecto técnico, ele realiza seu trabalho mais maduro com Sin City. Várias cenas têm uma atmosfera poética graças às soluções visuais que retratam neve, esparadrapos, chuva, perseguições de carro, etc.

Depois da primeira hora de filme, quando as imagens já não surpreendem tanto, o público indiferente às histórias em quadrinhos pode se incomodar a) com a violência – Frank Miller é conhecido por sua faceta sanguinária –, ou b) com o enredo, que não vai além do desfile de figuras bizarras e bidimensionais.

Co-dirigido por Rodriguez e Miller, o filme tem ainda a participação de um diretor convidado: Quentin Tarantino (Kill Bill), responsável pela seqüência em que o cadáver de Benicio Del Toro, quase irreconhecível, conversa com Clive Owen. A ação se passa toda em um carro, mas se percebe o dedo de Tarantino no diálogo surreal dos personagens.

Sin City é uma experiência visual. Uma longa experiência visual. GGG

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