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Jodie Foster parece ter escolhido o tipo de personagem pelo qual deseja ser lembrada: mãe. Mas não se trata de uma genitora qualquer. Precisa ser solteira, divorciada ou viúva, contanto que não tenha homem por perto. E, para complicar, a cria tem de estar em perigo iminente.

Essa talvez seja uma maneira simplista de resumir a carreira da atriz, que traz no currículo pelo menos três papéis memoráveis: a prostituta juvenil Iris (Taxi Driver), a jovem violentada Sarah Tobias (Acusados) e a agente do FBI Clarice Starling (O Silêncio dos Inocentes). Ainda mais se lembrarmos que Jodie venceu Oscars pelos dois últimos títulos.

Acontece que, de uns tempos para cá, talvez em virtude da escassez de personagens de impacto para atrizes com mais de 40 anos, Jodie vem se repetindo. Tanto em O Quarto do Pânico (de David Fincher) quanto em Plano de Vôo (de Robert Schwentke), que está sendo lançado neste mês no Brasil em DVD, a atriz encarna a figura da mãe coragem, capaz de encarar ladrões, terroristas e o escambau para garantir a segurança de seu rebento.

Se em O Quarto do Pânico, Jodie vive uma mulher recém-saída de um divórcio traumático e com uma filha para terminar de criar, a situação se agrava em Plano de Vôo. O marido morre no que pode ter sido tanto um suicídio quanto um assassinato. O fato é que, diante da perda, cabe a sua heroína, Kylie, arrumar as malas e deixar Berlim, onde a família vivia feliz até a fatalidade, para retornar aos Estados Unidos. Na viagem, entretanto, algo muito insólito acontece.

Enquanto Kylie cai no sono, possivelmente em conseqüência dos tranqüilizantes que vem tomando para suportar o estresse gerado pela perda do marido, a filha Julia, de apenas 6 anos, desaparece em pleno vôo. Quando tenta encontrá-la, descobre não existir registros do embarque da menina. Ninguém a bordo da aeronave parece ter visto a garota com ela na cabine.

Embora um tanto inverossímil, o ponto de partida do enredo de Plano de Vôo é instigante, especialmente por que, ao lado de Vôo Noturno (de Wes Craven), investe na paranóia anti-aérea pós-11 de setembro. O que fragiliza – e muito – o filme de Schwentke é a incapacidade dos roteiristas de encontrar uma solução para o enigma do desaparecimento de Julia que não seja estapafúrdia.

O diretor alemão sai-se bastante bem na primeira parte da narrativa, ao construir de forma convincente o clima de tensão exigido pelo enredo. Consegue explorar de maneira convincente o espaço físico do avião como território dramático. Também marca pontos por ter ao seu favor Jodie Foster, uma atriz vigorosa, perfeita para viver mulheres fortes, e Peter Saarsgard (de Soldado Anônimo), cuja ambigüidade e sutileza caem como uma luva em seu personagem. É uma pena que, a partir do momento em que a atmosfera tem de ceder lugar à ação, Plano de Vôo comece a enfrentar turbulências.

Os suspeitos mais óbvios pelo sumiço de Julia são um grupo de passageiros de evidentes traços árabes. O roteiro até tenta mostrar, de forma algo irônica, que a acusação é movida por impressões embasadas unicamente no preconceito. Essa discussão, no entanto, jamais decola. Também é interessante a possibilidade de Kylie, em surto, estar imaginando tudo – um médico informa a companhia aérea que Julia teria morrido no mesmo dia que o pai. Mas nenhum desses caminhos é explorado a contento. Afinal, o importante é transformar Jodie, mais uma vez, em salvadora da pátria.

Num desfecho que beira o cômico, Plano de Vôo aterrissa muito mal, bruscamente. Quase como se o roteiro, ao não encontrar uma solução dramática coerente e crível, lançasse mão de uma bóia salva-vidas meio furada. Agora é esperar que Jodie Foster, uma das atrizes mais importantes de sua geração, resolva ser mãe apenas fora das telas e volte a viver personagens que durem mais na memória do espectador do que a pipoca comprada antes da sessão. GG

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